terça-feira, 30 de outubro de 2012

Carinhos


Sou adepta dos presentes feitos, mais que dos comprados.
Dos presentes vivos, mais que dos inanimados.
Daqueles exclusivos, mais que dos copiados.

Presente gostoso de dar é aquele que faz soar um ooohhhhh.
Um cachecol de tricot, uma planta dentro de um vidro antigo, uma cestinha com a produção da horta, um bolo... são coisas simples que carregam a surpresa de um presente diferente, que certamente encanta mais do que a velha "coisinha que eu comprei pra você, só uma lembrancinha".

Aqui, os vizinhos se ajudam muito e ninguém mede nem cobra favores de volta. Acho que antigamente em todos os lugares era assim, mas tenho certeza que os muros altos e os medos nas grandes cidades foram afastando as pessoas.
Acontece que ultimamente tenho mais pedido do que feito favores, e estava me sentindo em débito com os vizinhos de lá e de cá, então chegou a hora de fazer uma surpresinha para retribuir.

O parâmetro costuma ser a minha própria felicidade (ao dar e ao receber) e esses dias estou para cozinha, então pensei que um bolo de fubá no final da tarde depois de um dia ultra puxado seria tudo de bom. Se ainda por cima fosse entregue quentinho, enfeitado de flores, embrulhado com capricho e acompanhado de um bilhete...

É tudo muito simples, mas fazer com carinho é fundamental.
O bolo (vindo daqui):

3 ovos (4 se forem pequenos)
1 xícara de leite
1 xícara de fubá
1 xícara de farinha de trigo
2/3 de xícara de óleo
1 + 1/2 xícara de açúcar
1 colher de sopa de fermento em pó
2 colheres de sopa de queijo ou de coco ralado (usei coco)
1 colher de sopa de sementes de erva doce (adição minha)

Bata tudo na batedeira ou no liquidificador e despeje em forma untada e polvilhada com fubá.
Leve para assar em forno pré-aquecido a 180 graus (médio-alto) por 40 ou 50 minutos.
O velho teste de espetar a faca e ela sair limpa é uma boa medida.
Espere o bolo esfriar antes de desenformar, para que ele não quebre.

O enfeite de açúcar:
Para figuras "em positivo", como as minhas flores, você pode fazer um desenho em papel e recortar com estilete. Para figuras "em negativo" pode usar qualquer coisa como molde, colocando-as direto sobre o bolo. Vale usar tampinhas de tamanhos variados para fazer bolinhas, usar colheres de café e pequenos garfinhos, desenhar com palitos de dente ou de fósforo...
Açúcar de confeiteiro polvilhado através de uma peneira fininha fazem o resto do serviço.

O embrulho:
Uma folha de celofane embaixo, um retalho de tecido (também pode ser um pano de prato bonito, novinho), outra folha de celofane e o bolo em cima.
Para ter um acabamento melhor fiz o embrulho em duas etapas: primeiro sem amarrar o celofane de fora, e depois juntando ele também, com um laço de fita e retalho de outro tecido.



quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Abaixo a cadeia alimentar

Tucano-toco ou tucanuçu (Ramphastos toco)

Lindo "meu" tucano, não é?
Dia desses nos assustamos um com o outro, eu saindo de casa com a câmera na mão para fotografar alguma coisa e ele pousando baixo na embaúba (Cecropia hololeuca), a três metros do chão. Foi o tempo de fazer a foto e ele foi embora.

E eu fiquei encafifada: que que esse tucano tem rondado tão perto aqui de casa? Já há dias eu o via sempre voando baixo e em árvores diferentes das que costuma frequentar. Achei que pudessem ser as frutas.

Ingenuidade vegetariana, a minha...
Ontem, enquanto falava no telefone, escutei um flaf flaf flaf no telhado, barulho de bicho grande batendo as asas meio nas telhas, meio nos galhos da árvore. Dei uma abaixadinha para olhar pela janelha e vi peninhas brancas caindo. Desliguei o telefone meio na cara da pessoa, me desculpando que não dava para falar naquela hora, e corri para espantar o gato, que eu supus que estivesse no telhado tentando pegar passarinho.

Foi quando vi o tucano fugindo com um bebê rolinha na boca. Voou até o ipê rosa e ainda deu umas chacoalhadas no bichinho antes de jogá-lo pra cima e engolir.
Sim, o tucano é lindo e come frutas, insetos e artrópodes, mas também gosta muito de ovos e filhotes de passarinho. Maledeto. Eu aqui fazendo levantamento das espécies que frequentam o sítio, colocando frutas e sementes no quintal para alimentar a passarada e o tucano comendo as criancinhas.

Eu sei, essa é a natureza. O leão come o Bambi, os lobos comem as galinhas, os cachorros comem os gatos, que comem os ratos, que comem...
Mas eu detesto ver isso e acho triste, oras. Agora a mãe volta para o ninho e cadê o filho dela?

Por falar em mãe, hoje cedo saí para dar uma volta na mata e assisti uma mãe bem-te-vi dando uma corrida em outro (ou no mesmo) tucano. Os bem-te-vis são bravos e defendem seus ninhos aos berros e bicadas. Esse de hoje saiu das folhas de uma palmeira e voou atrás do tucano atacando e dando uns gritos, para ver se espantava. Tinha ninho na palmeira, certeza. Eles fazem o mesmo com os gaviões, e isso eu já tinha visto, mas com tucano foi a primeira vez.

O ninho assaltado visto de baixo para cima. Não sei se sobrou alguém


E as peninhas que ficaram na grama

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A primeira abobrinha a gente nunca esquece

A primeira abobrinha, colhida com a tesoura de poda psicodélica que ganhei da Mari

Hoje no almoço vai ter lindeza no cardápio: a primeira abobrinha italiana da horta. As sementes foram postas para germinar há cerca de um mês, e nos oito pés que vingaram já tenho três ou quatro grandes e gordinhas para colher. Essa da foto foi a selecionada e vai já para a panela.

O pé de abobrinha visto de cima. Cabe aí na sua casa?

Aliás, para os adeptos das hortas em pequenos espaços, estou fazendo uma experiência de abobrinha italiana em vasos, já que meus pés plantados nos canteiros da horta estão ocupando uma área de aproximadamente 80 x 80 cm cada. Por isso acho que a varanda de um apartamento ensolarado pode sim produzir alguns quilos de abobrinha.

Enterrei sementes em dois vasos grandes, um deles um pouco mais ao sol, o outro mais à sombra, e nos dois já nasceram os brotos. Dentro de um mês, mais ou menos, saberemos se isso vai dar certo. Tem todo o jeito de que vai, então acho que, enquanto faço meus testes aqui, você poderia também fazer os seus aí. Assim, com diversas situações e amostragens, a experiência fica quase científica e podemos ensinar mais gente a plantar abobrinha em casa.

Os dois brotos de um vaso...

...e os três do outro. E agora, cadê a coragem de arrancar os menores e deixar só um em cada vaso?

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Horta em vasos - pé de louro


Um condimento muito comum na cozinha brasileira mas que quase nunca se vê plantado em hortas - principalmente as em vasos - é o louro (Laurus nobilis). Na verdade, é difícil encontrar um pé de louro por aí, mesmo nas ruas ou em quintais de casas antigas. Estranho, já que se trata de planta fácil de cultivar.

O louro é uma árvore de crescimento lento que prefere viver em meia sombra, o que quer dizer que pode se adaptar bastante bem em varandas de casas e apartamentos onde incida um solzinho por uma ou duas horas ao dia, no máximo. Ou então que não tenha nenhum sol direto mas que seja um lugar claro. Sombra fechada não funciona. E como tem crescimento lento, fica feliz por vários anos plantado em um vaso grande.

Dona Rosy Bornhausen ensina, no livro Ervas do sítio, que na mitologia grega o louro representa a virgem Daphne transformada por seu pai numa árvore de folhas brilhantes para escapar das perseguições amorosas de Apolo, que desde então passou a usar uma coroa de louros nos cabelos. A partir daí esse uso tornou-se um símbolo de vitória, e a coroa foi usada por reis, conquistadores, príncipes e poetas. Nos jogos olímpicos de 776 a.C. os esportistas vencedores receberam as coroas verdes da glória que continuam significando honra e poder.

Na culinário o louro é um tempero importante, sempre presente em peixes e feijões, e é um dos componentes do bouquet garni, mix de ervas que aromatiza caldos e sopas. Na cosmética, seu óleo essencial é usado na formulação de sabonetes para peles sensíveis e em cremes para o corpo, e para a medicina a planta tem importantes qualidades curativas, seja em uso externo, para aliviar reumatismos, ou em uso interno, para curar bronquite, gripe e problemas digestivos. E antigamente era usado, pelas nossas bisavós, dentro de potes de farinha para afastar os insetos.

Só que o tempo foi passando e, além de ficarem para trás esses usos e sabedorias, o louro virou, pras mocinhas e mocinhos que aprenderam a cozinhar nas últimas duas décadas (eu incluída), uma planta que se compra desidratada, dentro de um saquinho na prateleira do supermercado.

Mas ainda é tempo de mudar o curso da história. Um vaso grande, pedrinhas ou argila expandida, um bom tanto de terra adubada (de preferência com húmus de minhoca ou esterco) e regas a cada 2 ou 3 dias são tudo de que uma muda de louro precisa para crescer na sua casa. Veja no post da horta em vasos o passo a passo e o material necessário para plantar seu louro.

O meu veio em um vaso de plástico de uns 30 cm de altura, e tinha mais ou menos 60 cm quando comprei. Passei para um vasão de barro de 50 cm de altura e em um ano ele cresceu cerca de dois palmos, com vários galhos novos nas laterais. No começo eu tinha pena de tirar as folhas; a planta não era muito cheia, então economizei um pouco. Depois que começaram a brotar as folhas novas tomei coragem e agora uso sempre. Costumo escolher as folhas mais antigas, e arrancá-las funciona como uma poda, que estimula o louro a brotar mais. E com o uso frequente ele se mantém uma arvoreta, apesar de ter potencial para crescer bastante se for plantado no chão.

Não tem mistério. Talvez o mais difícil seja encontrar a muda para comprar, mas pesquise bastante, mostre interesse e pergunte, no caso de não encontrar, se é possível encomendar. Lojas e produtores tem seus contatos, e o comércio de plantas funciona como qualquer outro: a procura gera a oferta. Aumentar a disponibilidade de temperos e condimentos nas lojas depende muito dos plantadores urbanos.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O caso estranho de Percy Schmeiser

Feijões espírito-santo orgânicos que ganhei da Neide, que por sua vez ganhou da Laura, do Sítio Gralha Azul





Ainda na onda do Slow Food e no tema "somos responsáveis pelo que acontece à nossa volta", transcrevo abaixo um trecho do livro O mundo é o que você come, da americana Barbara Kingsolver. É a inacreditável história do que pode acontecer quando falta bom senso e preocupação com o interesse coletivo na cabeça do ser humano, e de como pessoas (e nações) conscienciosas podem reverter absurdos trabalhando unidas.

O caso estranho de Percy Schmeiser

Em 1999, um pacato fazendeiro de meia-idade, de Bruno, Saskatchewan, foi processado pelo maior produtor de sementes biotecnológicas do mundo. A Monsanto Inc. alegou que Percy Schmeiser causara-lhe danos no valor de 145 mil dólares, por ter genes patenteados por ela em algumas das plantas de canola em seus quinhentos hectares. Não se alegava que Percy havia efetivamente plantado as sementes, ou mesmo que ele as tivesse obtido ilegalmente. O argumento da Monsanto era simplesmente que as plantas na terra de Percy continham genes pertencentes a ela. O gene, patenteado no Canadá no começo da década de 1990, dá às plantas de canola geneticamente modificadas (GM) a força para resistir à pulverização com herbicidas glyphosate, tais como o Roundup, comercializados pela Monsanto.

A canola, uma variedade cultivada da semente de colza, é uma das três mil espécies da família das mostardas. O pólen da mostarda é transferido por insetos, ou pelo vento, por uma distância inferior a um quilômetro. Será que o gene patenteado viaja junto com o pólen? Sim. Será que as sementes são viáveis? Sim, e têm uma vida útil de até dez anos. Se sementes de anos anteriores permanecerem no solo, é ilegal colhê-las. Ademais, se qualquer uma das sementes em um campo contiver genes patenteados, é ilegal guardá-las para o uso. Percy guarda sementes de canola há cinquenta anos. A Monsanto abriu um processo para proteger sua propriedade intelectual que foi levada até as plantas dele. As leis protegem a posse do próprio gene, não obstante o modo de condução. Por causa do fluxo de pólen e da contaminação das sementes, os genes da Monsanto estão fortemente presentes na canola canadense.

Percy perdeu a disputa na justiça: foi declarado culpado pelo Tribunal Federal do Canadá, sendo a decisão mantida por uma margem estreita no tribunal de recursos. O Supremo Tribunal do Canadá manteve a decisão por maioria apertada (cinco a quatro), mas sem compensação para a Monsanto. Essa caso assombroso atraiu a atenção para os problemas associados à disseminação dos cultivos GM. Fazendeiros orgânicos de canola em Saskatchewan estão em litígio contra a Monsanto e a outra companhia, a Aventis, por impossibilitarem o cultivo de canola orgânica pelos agricultores canadenses. A Associação Nacional dos Agricultores do Canadá solicitou o embargo temporário de todos os alimentos GM. A questão ultrapassou as fronteiras do país. Quinze países proibiram a importação de canola GM e a Austrália baniu toda a canola canadense devido à contaminação inevitável, tornada óbvia pelo caso judicial da Monsanto. Os fazendeiros estão preocupados por correrem o risco de serem responsabilizados, assim como os consumidores, com relação à escolha. Vinte e quatro estados americanos propuseram ou aprovaram leis diversas para bloquear ou limitar produtos GM específicos, atribuir responsabilidade pelo fluxo aéreo de GM aos produtores de sementes, defender o direito dos fazendeiros de guardar sementes e exigir que os rótulos de sementes e produtos alimentícios indiquem ingredientes GM (ou então a sua ausência, com os rótulos "não contém GM").

O governo dos Estados Unidos (sempre tratando com carinho os interesses empresariais) tomou providências para driblar essas medidas pró-consumidor. Em 2006, o Congresso aprovou a Lei da Uniformidade Nacional de Alimentos, que derrubaria mais de duzentas leis estaduais de rotulagem e de segurança dos alimentos que diferem das federais. Dessa forma, prevaleceria a proteção mais débil ao consumidor (embora sejam uniformemente débeis). Aqui está uma dica sobre quem apoiou e de fato se beneficia dessa lei: o Instituto Americano de Comida Congelada, ConAgra, Cargill, Dean Foods, Hormel e a Associação Nacional de Criadores de Gado. Ela foi contestada pela Associação dos Consumidores, Sierra Club, Associação de Cientistas Preocupados, Centro de Segurança dos Alimentos e por 39 procuradores-gerais estaduais. Manter as patas "intelectuais" da GM longe de nossos corpos e de nossa terra é responsabilidade dos consumidores que exigem informações completas sobre o que contém nossa comida.

Para obter outras informações, visite www.biotech-info.net ou www.organicconsumers.org

Por Steven L. Hopp

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Fast food para chegar a tempo ao Slow Food


Como acontece sempre, ontem planejei mais coisas em São Paulo do que as distâncias e o trânsito me permitiram realizar. O seminário sobre Slow Food já tinha começado há quinze minutos e eu ainda descia, de barriga vazia, a Brigadeiro Luiz Antonio. O jeito foi entrar em uma das muitas lanchonetezinhas no caminho e pedir alguma coisa rápida, que desse para ir comendo enquanto andava, para não perder muito do evento.

Cheguei quase uma hora atrasada, e já na porta do auditório ganhei um folheto que começava assim:  
O Slow Food foi fundado em 1989 em oposição aos efeitos do fast food e ao ritmo frenético da vida atual,...

De garrafinha plástica e salgadinho de queijo nas mãos, fazendo tudo errado em pleno encontro de especialistas, sentei para respirar, desacelerar o coração e entrar no clima do evento, lendo o resto do folheto:

...ao desaparecimento das tradições culinárias locais, ao interesse cada vez menor das pessoas pela comida, pela origem e pelo sabor dos alimentos e para esclarecer como nossas escolhas alimentares podem ter um impacto no mundo. ... O Slow Food considera a agricultura, a produção de alimentos e a gastronomia segundo um conceito de qualidade do alimento baseado em três pré-requisitos básicos e interconectados:
bom... uma dieta fresca e saborosa, capaz de satisfazer os sentidos e que seja parte da cultura local
limpo... produzido respeitando o meio ambiente e a saúde humana
justo... preços acessíveis para os consumidores e condições e pagamentos justos para os produtores familiares
Acreditamos que todos devam ter acesso ao alimento bom, limpo e justo.

Pois é, o movimento Slow Food é tudo de bom e foi gratificante ver quanta gente tem trabalhado duro em favor da boa alimentação.

Carmen Silvia Carmona de Azevedo, do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de São Paulo, explicou as inúmeras atribuições da entidade que representa e quantos órgãos e empresas estão envolvidos na mesma discussão.

João Paulo Amaral, do IDEC - Instituto de Defesa do Consumidor - falou sobre os truques e artimanhas que os fabricantes usam para "maquiar" de naturais alimentos quase totalmente artificiais, e sobre a falta de regulamentação no setor, que permite, por exemplo, que sucos de fruta em pó tenham rélis 1% da fruta em sua composição.

Roberto Graziano, Secretário do Abastecimento do Município de São Paulo e coordenador do projeto Feiras Orgânicas explicou a quantas anda a oferta de orgânicos na cidade e as tentativas de aumentar o número de feiras. A de agricultura familiar no Ibirapuera, por exemplo, terá cerca de 40 barracas e está prevista para começar no dia 10 de novembro na região entre o clube Círculo Militar e a Assembleia Legislativa.

Depois da primeira mesa de debates o microfone foi aberto à plateia e diversos representes de organizações puderam contar dificuldades e também bonitas realizações e experiências. E é unânime o chamado para que mais pessoas se envolvam com as mudanças das quais desejam usufruir. Já houve o dia em que não se falava em alimentos orgânicos; hoje já há esta bandeira levantada e só vem crescendo o número de produtores de alimentos sem agrotóxicos no país. Já houve o dia em que não se falava em Slow Food; hoje já existe esse movimento com mais de 100 mil associados em 150 países.

A gente sempre pode escolher entre não fazer nada e se envolver em movimentos que só fazem bem. Ficar em casa olhando tudo de longe é a melhor receita para permanecer sempre à parte, enquanto ir a um seminário, palestra ou encontro sobre qualquer coisa é a melhor maneira de se deixar contagiar e ver que pessoas unidas se fortalecem e fazem as coisas acontecerem.
Se você está naquele clima "gostaria de fazer alguma coisa mas não sei por onde começar"  visite os endereços abaixo, de alguns dos parceiros do Slow Food, e comece a conhecer um pouco mais do assunto. Quem sabe aí você encontra o que te mobiliza. Nunca é tarde, e quanto mais gente, melhor.


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Maus alunos



A grande revelação do domingo foi a notícia de que os supostamente bem educados jovens brasileiros da classe média alta foram pegos no pulo. Ou melhor, no lixo.
O jornal Folha de São Paulo encomendou à Inova, empresa que faz a limpeza das ruas da zona noroeste da cidade, um levantamento do lixo recolhido nos principais locais de balada dos bairros Pinheiros e Vila Madalena.

O resultado é de cair o queixo: em alguns endereços o total de sacos de lixo do final de semana corresponde a até 75% do coletado durante os dias úteis. Na rua Wisard, por exemplo, no período de 22 a 28 de setembro último, 171 sacos foram enchidos com o lixo de segunda a sexta-feira, enquanto 128 sacos foram necessários para recolher o lixo gerado apenas no sábado e no domingo.

Anrafael Vargas, diretor da Inova, diz que a maior parte do material é copo descartável, bituca e maço de cigarro, guardanapo de papel e garafa long neck. "Tem pouco alumínio porque os catadores recolhem as latinhas", diz ele. Alguns bares têm lixeiras do lado de fora e varrem diversas vezes por noite, mas ainda assim a empresa de limpeza pública tem muito o que recolher quando amanhece o dia.

Quem sai do bar para fumar está mais do que acostumado a jogar bituca de cigarro no chão. Eu sei como é, também já fumei e já fiz assim. Bituca se arremessa longe, num peteleco caprichado que todo fumante sabe dar. Ou então é esmagada pela ponta do pé fazendo voltinhas, para ter certeza de que ficou bem apagada. Afinal, acessa é perigosa, mas apagada no chão tudo bem.
Já os que bebem em pé na calçada colocam cuidadosamente seus copos e garrafas vazios nos cantinhos das paredes ou na guia, já que seria feio arremessá-los por aí. Vidro quebra, machuca os outros, não é legal. Mas colocadinho no chão com cuidado, que mal tem?

No dia seguinte, sobra no chão a vida real. Um rastro de falta de educação que o charme e o papo animado da noite anterior não conseguem negar. Os que jogaram tudo aquilo na rua não puderam interromper por um instante a piada para caminhar até a lixeira. Ou, em casos de ainda mais conseciência e empenho, para questionar ao garçom "O bar não tem uma lata de lixo do lado de fora? Onde eu posso jogar isso?"

É chato começar a semana assim, com a triste constatação de que nem aqueles que têm livre acesso à "boa educação" estão fazendo o seu dever de casa.

Para ler a reportagem completa da Folha de São Paulo, clique aqui. E para ver mais números, confira a seguir a tabela produzida pela Folhapress.



quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Quem se importa - o filme


Quem se importa tem tudo a ver com fazer o seu dever de casa.

Quem se importa é mais que um filme, é um movimento. Foi filmado em 7 países (Brasil, Peru, EUA, Canadá, Tanzânia, Suiça e Alemanha) e conta histórias de pessoas comuns que se tornaram empreendedores sociais, provando que qualquer um de nós pode mudar o mundo. A direção é de Mara Mourão e a narração, de Rodrigo Santoro.

O filme já esteve em cartaz no primeiro semestre de 2012 e infelizmente não entrou em grande circuito, mas nas semanas em que ficou em exibição em alguns cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, entre outras cidades, lotou as salas e gerou grandes grupos de discussão.
A gente sai do cinema querendo ver mais uma, duas vezes, e convencido de que a mudança, em grande ou pequena escala, está mesmo nas mãos de cada um de nós.

Se você mora em São Paulo e tem a noite de amanhã livre, deixe-se contagiar por essa onda. O filme será exibido no Cineclube Socioambiental Crisantempo às 20 horas e tem entrada livre e solidária. Leve 1 kg de alimento e colabore com as instituições parceiras do cineclube.
Esta exibição acontece junto ao lançamento do dvd, que estará disponível para compra a partir de amanhã no site do filme.

Para saber mais, acesse www.quemseimporta.com.br

Quem se importa - quinta-feira, 11 de outubro às 20 horas
Cineclube Socioambiental Crisantempo
Rua Fidalga 521 - Vila Madalena - São Paulo
Tel. (11) 3814-2850
http://www.cineclubesocioambiental.org.br

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Cenouras coloridas com manteiga de ervas


A Neide, do Come-se, deixou um comentário lá no post sobre a colheita das cenouras coloridas sugerindo que eu as comesse cozidas, em rodelinhas, e passadas na manteiga de ervas. Ela é sabida e eu não sou boba nem nada, então aceitei a sugestão e foi isso o que fiz.

Para quem estava morrendo de curiosidade, assim como eu, as notícias são as melhores.
Claro que com elas ainda cruas já fiz as primeiras degustações, e foi fácil perceber que todas se parecem um pouco com as cenouras comuns, alaranjadas, mas cada uma tem seu sabor específico. Dá até para brincar de adivinhar, de olhos fechados, que colorido tem cada gosto.

As brancas são mais fortes, quase picantes, as amarelinhas, minhas preferidas, são suaves e delicadas, enquanto as roxas, com seu lindo miolo alaranjado, tem um gosto só delas que nem sei dizer com o que se parece.
Depois de cozidas (com casca e no vapor, para não desbotarem) todas mantiveram suas características principais mas o sabor foi um pouco suavizado e acrescido de um leve doce, aquele que sempre aparece quando se cozinha cenoura.

E o toque final, ótima sacada da Neide, foi passá-las em manteiga de ervas. Na verdade não sei (e nem perguntei) se ela pensou em um naco de manteiga direto no prato, em cima das cenouras quentinhas, ou se a ideia era uma seladinha na frigideira com a manteiga, mas eu já fui partindo para a segunda possibilidade, e tenho para contar que ficou um arraso. De bom!

A manteiga preparei na véspera e deixei passar a noite na geladeira, aromatizando.


Depois coloquei uma colherada dela na frigideira, pinguei um tico de azeite por cima - dica para evitar que a manteiga queime muito rápido - e, assim que derreteu, joguei as rodelinhas de cenoura. Um tchiii de um lado, um tchiii do outro, e foram para o prato, acompanhadas de um risotinho legal que já tinha pronto e um pouco de couve da horta. Ficou espetacular, e eu sugiro que você experimente em casa, mesmo com cenouras comuns ou com batatas.

E sobre a manteiga de ervas: não tem coisa mais fácil de fazer e todo mundo adora. Tenho uma receita básica que costumo repetir, mas na verdade ela funciona mais como uma referência de quantidades, porque a manteiga fica ótima com as mais variadas combinações de temperos, por isso não se prenda a essa fórmula e use o que tiver em casa.

1 tablete (200 g) de manteiga (com ou sem sal) em temperatura ambiente
1 colher de sopa de salsinha fresca picada
1 colher de sopa de cebolinha fresca picada
1 colher de sopa de manjericão fresco picado
1 colher de sopa de orégano fresco picado
1 colher de sopa de orégano seco

Misture tudo como se estivesse fazendo um patê, coloque num copo ou mantegueira bonita e leve à geladeira por algumas horas. Se sua manteiga já tiver sal, você provavelmente não vai precisar de mais. Se for sem sal, acrescente uma pitada, se quiser. Também vale colocar uma pimentinha ou outra especiaria que gostar.
Ela serve para dar um aroma super especial em preparos culinários mas não deixe de experimentá-la simplesmente com pão. É o máximo.

Essa receita aprendi num curso chamado Jardinagem Gastronômica, dado pela Silvia e pela Sabrina Jeha, amigas queridas da Sabor de Fazenda. Se você mora em São Paulo e está a fim de passar uma deliciosa manhã de sábado aprendendo coisas bacanas sobre ervas e cozinha, clique aqui, veja os detalhes e faça sua incrição, porque o próximo já é no final de semana que vem, no dia 20 de outubro.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Barulho na vizinhança

Quando ainda morava em São Paulo, costumava ser acordada de madrugada por um canto melodioso. Sabiá laranjeira (Turdus rufiventris) era o nome dele.
Sem noção de horário nem adequação, essa figura gosta de começar o dia bem cedinho, ainda no escuro, assoviando um inconfundível turi-turu-turi-turu-turi-turu...tu-tu (por favor, me dê um desconto, porque descrever canto de pássaro não é lá muito fácil).

Sabiá laranjeira

Quando me mudei para a "roça", descobri que tem gente que gosta de cantar ainda mais cedo do que ele, com mais empolgação, mais volume e, para acordar mesmo toda a vizinhança, canta em grupo!

No início não foi muito fácil descobrir quem era porque nunca tinha ouvido aquilo e, meio dormindo, não via nada no escuro nem conseguia memorizar aquele canto de muitas vozes misturadas. De um vizinho ouvi que deveria ser siriema, mas essa eu já conhecia, já tinha ouvido cantar, então sabia que era diferente.

Mas num final de tarde, enquanto trabalhava sozinha na horta em silêncio quase absoluto, tomei um susto quando toda aquela turma da madrugada começou a cantar de uma só vez, em altíssimo e bom som. Era como se um maestro tivesse dito "um, dois e... já!". Parecia Parabéns pra você em festa surpresa.
Pé ante pé, acabei descobrindo diversas Saracura-três-potes (Aramides cajanea) no meio da matinha, andando sob as mesas de plantio do viveiro.

Saracura-três-potes

Elas são lindas, parecem pequenas galinhas pernaltas e de rabinho para cima. O dorso é cinza esverdeado, a barriga é preta, as pernas são vermelhas, o peito é laranja, a cabeça é azul e o bico mistura amarelo na base e verde claro na ponta. Coloridas demais!

Casal de Saracura-três-potes

Até correr para casa e voltar com a câmera, perdi o grupo todo junto, mas consegui registrar imagens suficientes para comparar com as ilustrações do livro Aves brasileiras e plantas que as atraem, de Johan Dalgas Frisch e Christian Dalgas Frisch, e descobrir de quem se tratava.
São mais ouvidas do que vistas, cantam no início e no final do dia e gostam de andar em áreas brejosas e de vegetação densa. O canto é um dueto entre os membros de um par e, às vezes, em coro com vizinhos, dizendo "três potes, um coco, um coco.
Eu não concordo com essa "tradução", mas também não vou me arriscar (de novo!) com onomatopaicas. Para saber mais e ouvir o canto das Saracuras-três-potes, acesse o Wikiaves, site imperdível para quem gosta daqueles que voam.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Grupos, movimentos e a Horta das Corujas

Foto emprestada do blog da Horta das Corujas

Numa entrevista de 2008 ao Cambridge Programme for Sustainability Leadership, Manfred Max-Neef, autor do livro Human Scale Development (Desenvolvimento na Escala Humana - sem tradução para português), diz que "a consciência se desenvolve na escala humana. Não é algo macro. E, se você vê os movimentos, o que acontece? Cada vez mais um grupo aqui, outro grupo acolá, e um movimento aqui, um movimento social acolá estão começando a desencadear a revolução".

Ao ler este trecho da entrevista, me lembrei imediatamente da Claudia Visoni e dos Hortelões Urbanos, um grupo de jardineiros "amadores" no Facebook que troca ideias e informações a respeito do cultivo de alimentos nas cidades. A Claudia é jornalista e faz parte do grupo de idealizadores da Horta das Corujas, uma horta comunitária recém implantada numa praça da Vila Madalena, bairro de São Paulo. Ela e alguns Hortelões mexeram seus pauzinhos, pás e enxadas e fizeram virar realidade uma ideia comum a todos aqueles que espremem vasos e potinhos com hortaliças nos pequenos quintais das cidades grandes.

Depois de meses de planejamento, germinação de sementes e muita mão na terra, a Horta das Corujas foi inaugurada no último sábado com show de música, lanche comunitário e a presença de mais de 100 pessoas. Para que tudo aquilo se tornasse possível, muita mobilização, bom senso e boa vontade foram necessários: entre outras ações, a Companhia de Engenharia de Tráfego da cidade doou 80 postes de 1,50 metro de altura que seriam descartados (!), os simpatizantes da horta fizeram vaquinha para a compra de tela e arame e a prefeitura doou a mão de obra para a construção da cerca.

Para a manutenção da horta, os voluntários se dividem em uma escala e cada um é responsável por regar os canteiros em um dia da semana. E como de coisa bonita todo mundo quer participar, as escolas da região já começaram a adotar espaços e planejar aulas e projetos com os pequenos, para estimular o contato das crianças com hortaliças e incluir o tema produção de alimentos nos assuntos do dia a dia.

Daqui para frente a ideia é contagiar os que visitam o local e mostrar que quem realmente quer e se mobiliza consegue realizar um projeto como esse. Para isso, a Horta das Corujas está sempre com os portões destrancados, apostando na consciência do cidadão paulistano. Em entrevista dada ao jornal O Estado de São Paulo, Claudia diz "estamos confiando na capacidade das pessoas de respeitar um projeto assim em um espaço público.

E eu morro de vontade de entrar numa máquina do tempo para, num pulinho ao ano 2042, dar uma espiada na transformação que esse projeto terá causado na cabeça dos moradores da cidade. Certamente as crianças que plantaram na Horta das Corujas serão adultos como a Claudia e os Hortelões Urbanos, e como disse Manfred Max-Neef na entrevista, grupos aqui e movimentos acolá terão causado uma revolução.

Para conhecer mais sobre o projeto e sobre cursos e oficinas que serão ministrados pelos voluntários e colaboradores, visite o site da Horta.
E não deixe de ler o Simplesmente, blog da Claudia sobre ecologia e consumo consciente.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Para você, que um dia chupou fruta no pé


CamomilaRosaeAlecrim foi a primeira a comentar o post sobre as jaboticabas e contou que lembrou da infância, quando tinha um pé desses no quintal.

Isso acontece todas as vezes que escrevo ou converso com alguém sobre frutas. 
Uvaia, pitanga, goiaba, cambuci, jaboticaba e muitas outras frutas remetem as pessoas à infância, quando subiam em árvores e comiam frutas no pé, sem lavar mesmo, que criança nem lembra disso.
E é impossível não pensar naqueles que estão crescendo sem essas experiências tão gostosas que formaram os adultos de hoje (ou, em casos ainda mais extremos, os adultos de ontem, idosos de hoje).

Por isso não posso deixar de fazer um pedido - quase um apelo - àqueles que sabem o que é subir em árvore e valorizam cada fruta que chuparam no pé do quintal: façam sua parte, assim como nossos bisavós e tetravós fizeram. Plantem frutíferas por aí e deixem de presente às próximas gerações pés de frutas que fizeram parte da história de vocês. Chega dessa moda de plantar ficus, pinheiros e eucaliptos. Encham as casas, ruas e praças de frutas e levem seus filhos e netos para conhecê-las. Comam amoras direto do pé junto com eles e dêem risada de ficar com a boca e as mãos roxas. Colham uvaias e levem para casa para fazer suco. Catem pitangas do chão e semeiem em caixas de leite longavida, para depois plantar a muda perto de casa. E se acontecer uma picada de abelha, que ela também entre para a história!

Chega de tanto passeio no shopping. Cinema é cultura, batata frita é uma delícia e videogame diverte, sim, mas esses adultos por vir só terão essas lembranças de infância?

A fábrica de jabuticabas

Eram sete da manhã e no primeiro passo para fora de casa já se podia perceber que algo diferente estava acontecendo. Um perfume intenso no ar, um zum zum zum forte, um tipo de vibração. 
E os curiosos que seguiram as pistas logo descobriram no caminho a jabuticabeira com os galhos todinhos cobertos de branco.


Era como se tivesse nevado à noite. 


Abelhas jataís e africanas trabalhavam com empenho nas flores, coletando néctar e deixando de presente a polinização feita, para que tenhamos frutos em algumas semanas.


Era delas que vinha a vibração. Impressionante o som que diversos enxames juntos são capazes de fazer enquanto trabalham na florada de uma árvore. Na "vida metropolitana" só se ouve coisa parecida ao passar perto de um ar condicionado daqueles grandes, capazes de resfriar um andar inteiro de escritórios.


Ao cair da tarde comemos uma boa panelada de pipocas debaixo desse monumento florido, curtindo a vida e assistindo ao pôr do sol sob uma chuvinha fina de pétalas brancas que começam a cair. 
Mas o espetáculo deve continuar, porque entre os pompons já abertos se vê pequenas bolinhas; são os pompons ainda embrulhados que abrirão amanhã e, com seu perfume forte convidarão mais abelhas, que nos atrairão com mais zum zum zum, e quem sabe comeremos mais pipocas, até que venham as jaboticabas.

 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Monstrinhos coloridos



Colhi minhas cenouras coloridas e tive que dar razão a quem já tinha avisado: transplantar brotos de cenoura não dá certo. Todo mundo já sabia - até eu! - mas, teimosa, resolvi apostar, para ver com meus próprios olhos.

No início de agosto, como contei aqui, semeei lindas cenouras coloridas e não tive coragem de fazer o raleio recomendado quando duas ou mais sementes germinam na mesma cova, então quando as plantinhas já tinham cerca de 10 centímetros de altura fiz o transplante de muitas delas, apostando para ver no que daria. Minha suspeita era de que as cenouras nasceriam tortas ou dobradas, já que é dificílimo manter a raiz retinha como na posição original. Mas não foi bem isso que aconteceu.


Ao invés de continuarem a crescer, mesmo que com a raiz torta, minhas cenouras transplantadas emitiram novas raízes e se tornaram monstrinhos com jeito de polvo. Algumas tem as longas perninhas cruzadas e rendem boas brincadeiras, do tipo "que bicho eu sou?". Certamente dariam ótimos personagens nas mãos de Julio Cortázar.

Mas as cores saíram lindas, e o pouco de "massa cenoural" que elas apresentam renderá algo interessante de comer que ainda não sei o que mas logo saberei. E enquanto penso aproveitei para comer as ramas. Sim, ramas de cenoura são comestíveis e muito versáteis. Vão bem em sopas, bolinhos, arroz colorido ou qualquer outro tipo de preparo com alguma etapa de cozimento. Cruas não, porque são firmes e fibrosas, então, pelo menos na minha opinião, pedem um certo amolecimento em água ou refoga simples, com azeite. Nada complicado, é só picar bem e repetir o que se faz com couve, por exemplo.

Hoje no almoço fiz risoto de ramas de cenoura e ervilha torta. Delícia.
E enquanto mexia a panela no fogo, me lembrei de algo super curioso que a Neide, amiga querida do Come-se, me contou outro dia, enquanto visitava minha horta:

As cenouras originais, silvestres, eram brancas, amarelas e roxas, e a cenoura cor de laranja, praticamente a única que se encontra hoje em dia, foi desenvolvida na Holanda em homenagem a Guilherme I de Orange, durante a guerra holandesa de independência da Espanha, no século XVI.*
Tudo bem, homenagens fazem bem e a gente gosta, mas quem foi que resolveu sumir com as outras variedades, as coloridas e originais???

Próximo passo: semear o que me resta de sementes do pacotinho e não colher as cenouras, deixando as plantas darem flores e, em seguida, sementes. Assim, talvez eu consiga algum estoque para continar plantando e presentear quem se interesse em propagar a espécie.

*Em comentário nesse post, a Neide conta que, apesar de as cenouras laranjas terem sido mesmo desenvolvidas na Holanda, parece que a parte da homenagem é mito. Alguém sabe mais sobre isso?

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Pipoca l'ancienne


Depois da frustração de descobrir que o microondas assassino carbonizou as pipocas enquanto elas ainda estouravam dentro do saco de papel, achamos por bem ressuscitar uma técnica ancestral: pipoca de panela.
E que gostoso foi escutar aqueles estouros com eco metálico, ver a tampa da panela dar pulinhos de animação e sentir o cheiro que só a pipoca à moda antiga tem!
E que mal há em lavar uma panela ao final da brincadeira? 

Fazer pipoca na panela é uma maneira de economizar o plástico, o papel e o alumínio da embalagem para microondas, além de você ter a chance de dosar o sal e o óleo que vai ingerir.

E se você já se esqueceu como se faz isso, vai a receita de pipoca de panela para 2 pessoas:

Em uma panela com 1 palmo de diâmetro, coloque 2 colheres de sopa de óleo e milho suficiente para cobrir o fundo - cobrir o fundo com o milho é a referência do quanto de pipoca cabe nas panelas de proporção "normal", aquelas um pouco mais largas do que altas.
Acenda o fogo alto, tampe a panela e fique junto. Quando ouvir os primeiros plocs, abaixe o fogo e agite a panela algumas vezes até que o intervalo entre os estouros comece a ficar mais longo. Desligue o fogo, espere tudo acalmar e abra a panela.
Aos poucos, vá transferindo a pipoca para uma tigela, colocando sal nas "camadas"; assim ele já fica bem distribuído.

Um bom filme, sua novela preferida, um cd novo ou mesmo aquele livro que você não consegue largar são uma ótima companhia para sua pipoca à moda antiga. E não espere chegar o próximo final de semana!