terça-feira, 20 de novembro de 2012

Botando o dever de casa em dia

Capuchinha, flor comestível e bastante visitada por abelhas

Uma semana praticamente fora da web, botando meu dever de casa em dia.

No início da semana passada, em São Paulo, fui à pré-estreia do filme Muito além do peso, de que falei aqui. Para começar já foi gostoso ver uma meninada super empolgada com o buffet lindo que recebia a plateia de adultos e crianças logo na entrada do auditório. Todas as comidinhas e petiscos eram vegetais, a grande maioria deles in natura. Tinha cestinha de amora, framboesa, maçã verde, pêssego, palitinhos de cenoura e pepino e alguns tipos de batata cortadas em fatias fininhas, tipo chips, assadas. Para beber, sucos naturais e águas aromatizadas com hortelã e limão, pétalas de rosas e capim santo. Tudo delicioso e muito charmoso.


Depois das comidinhas, o filme. Muito bom, obrigatório e esclarecedor para quem come e bebe tudo e qualquer coisa que passe por dentro de uma indústria de alimentos e porte uma embalagem que não seja sua própria casca natural. São assustadores as quantidade de óleo e açúcar acrescentados nas comidas processadas, e médicos entrevistados explicam que são esses os ingredientes que criam dependência e fazem a gente não conseguir largar refrigerantes e salgadinhos antes do fim do pacote. Além disso, células gustativas educadas à base de óleos e açúcares nunca serão muito receptivas a vegetais. Isso explica porque muitos adultos, apesar de conhecerem a importância de uma alimentação saudável, têm tanta dificuldade para se habituar com legumes e hortaliças.

Impressiona ver crianças se jogando no chão aos berros até ganharem dos pais um saco de batatas fritas, e uma mãe de duas ou três filhas dizendo à entrevistadora que não se lembra se houve o preparo de alguma refeição naquela casa ao longo da última semana. Detalhe importante: essa cena acontece diante de uma mesa coberta com o que foi tirado de dentro da dispensa da família. Tudo processado, empacotado e cheio de flavorizantes, conservantes e corantes. Nem um único vegetal. E a mãe completa dizendo que se preocupa que as meninas estejam bem nutridas, por isso procura comprar produtos vitaminados. É surreal.

Surreal também é ver uma menina de 12 anos, acima do peso, contar que há dois anos teve uma crise de pressão alta e trombose, que causou nela a paralisia das pernas. Depois da internação de emergência e do tratamento inicial, a orientação dos medicos foi mudança de hábitos alimentares e perda de peso urgente, para evitar que a crise voltasse a acontecer. E quando a entrevistadora pergunta quantos quilos a menina emagreceu desde então, a resposta é "nenhum".

De volta aos meus hábitos alimentares, fui à Agroplus (de onde falei aqui) comprar mudinhas para a horta. Talvez pela época propícia ao plantio de muitas das famílias de hortaliças, encontrei ainda mais variedade do que na última vez em que estive lá, e tive medo de chegar de volta e não ter onde plantar tudo o que trouxe.


O radiche coube nos canteiros junto com as mudas de quiabo, pimenta cambuci, acelga e brócolis, entre outras coisinhas, mas a abóbora foi para um cantinho do gramado, bem rente à cerca viva. Assim terá espaço para espalhar suas ramas e formar um maciço, uma ilhota baixa no meio das árvores. Experimentei plantar assim no ano passado e deu super certo. Foi só tirar um disco de grama do lugar escolhido e caprichar na cova, cavando um buraco de mais ou menos o volume de um balde desses médios, domésticos, e preenchê-lo com uma terra boa, bem fértil. Ali as raízes principais da planta se alimentam, e as ramas crescem por cima da grama mesmo, lançando suas raízes "acessórias" nos espacinhos vagos que vão encontrando no caminho. Como o pé de abóbora tem o ciclo de vida curto, dentro de 5 ou 6 meses para de produzir e morre sozinho, daí é só recolher toda a folhagem morta e começar tudo de novo. Ou não. A grama pode estar meio feia onde estava o "abobral", mas certamente não terá morrido. Uma boa roçada seguida de regas abundantes (grama gosta bastante de água) faz tudo voltar a ser como era antes. No ano passado tive visita que achou lindo e disse que ia copiar em casa. Pronto, pé de abóbora virou planta ornamental.

No feriado emendado de quinta e sexta-feira (que não acabou até hoje, terça, em algumas cidades do país) trabalhei - e como trabalhei - na horta. Planto minhas comidinhas em canteiros que um dia serviram de estufa de marantas mas estavam abandonados há alguns anos, tomados de mato, e quem já plantou onde antes era mato conhece bem as dificuldades que estou passando. Com anos e anos de abandono a terra se enche de sementes de diversas espécies de mato e assim que você arranca o que está crescido, a luminosidade combinada com a água faz com que novas sementes germinem. Você arranca o novo mato e novas sementes germinam. E de novo, e de novo, um sem fim de vezes. Muitos dos "matos" que nascem nos meus canteiros na verdade são plantas úteis para chás, saladas ou refogados. Quando recebi visita da Neide, do Come-se, a cada pouco caminhado ouvia dela "você conhece isso?, é de comer". Muitas das espécies conhecia, sim, como dente-de-leão, beldroega, serralha, maria-preta, mas outras não tinha a menor ideia do que seriam.

De qualquer maneira as tenho classificado como "mato" porque estão nascendo onde quero ter couves, rúcula, tomate, cenoura, alfaces, ervas diversas, etc, e como normalmente essas invasoras se desenvolvem mais rápido do que o que quero cultivar, se não arrancá-las perco o que plantei. Só que essa batalha ELAS versus AS MINHAS só será vencida pelas MINHAS seu eu arrancar ELAS sistematicamente, até que acabe o banco de sementes e eu consiga ter um pouco mais de sossego. Enfim, passei horas a fio debruçada arrancando o que não quero ter dentro da horta no momento.

Nesse canteiro, por exemplo, só eu sabia que cresciam tomateiros.


Mas arranquei o que estava atrapalhando e deixei só o que interessa (da pra ver o pequeno tomateiro bem ali, no centro da foto?).


A mataiada ficou por lá mesmo, estendida sobre a terra com a função de cobertura vegetal, também conhecida como mulching. Uma vez falei sobre isso, aqui. Desde que o que foi arrancado não esteja com sementes, é ótimo deixar tudo ali mesmo, primeiro secando e depois se decompondo, para enriquecer a terra com nutrientes, além de evitar que a umidade evapore. Toda terra coberta, por qualquer coisa que seja, é sempre mais rica e fértil do que aquela permanentemente exposta, que perde sua vida e sua fertilidade dia após dia pela ação do sol e do vento. Basta levantar um vaso, um jornal ou mesmo um pedaço de plástico velho que tenha ficado sobre um canteiro para ver ali um tanto de minhocas, centopeias e tatus-bola, todos seres que vivem em locais úmidos e com boa disponibilidade de matéria orgância. Eles e milhares de outros seres microscópicos são o sinal de terra boa, viva, pronta para receber plantas.

E como recompensa, depois de tanto trabalhar a terra, chega a hora de comer a produção. Recentemente andei colhendo cenouras e abobrinhas italianas, e nesses dias de feriado foi a vez das folhas. Preparei lindas saladas coloridas, com o verde das rúculas e o roxo das folhas de amaranto, que complementaram o vermelho fresquinho dos tomates. É sempre muito mais gostoso comer o que a gente mesmo plantou.


Um comentário:

  1. Concordo que é muito bom mesmo comer o que se plantou com as próprias mãos. E que show essa recepção com comidinhas saudáveis para a criançada na estreia do filme. Muito bom! As mudanças começam na infância e a molecada acaba influenciando os pais. E, devagarinho, vamos promovendo mudanças fundamentais, não é? Beijos, Angela
    http://noticiasdacozinha.blogspot.com

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