Ninho de tico-tico com dois ovos de chupim, em cima à direita e embaixo à esquerda |
Basta começar a primavera e a gente logo nota a passarada mais animada por aí. Sabiás começam a cantar ainda antes do amanhecer, bem-te-vis se anunciam aos berros, espécies migratórias voltam para essas bandas e a turma toda se põe a fazer ninho.
Chegam outubro e novembro e é hora de ver a primeira geração de crianças tomando coragem para bater as asas, praticando voos curtos acompanhados pela mãe e ainda ganhando comida na boca. São crianças como todas as outras: fazem cara de coitadas e choram alto, tentando chamar a atenção e pedindo mais e mais comida. É fácil indentificar de longe um bebezão desses. Eles ficam parados minutos a fio no mesmo lugar, chamando, chamando, e quando a mãe vem com o lanchinho eles choram ainda mais alto e se tremelicam todos. É um pio meio chorado, mesmo. O canto só vem mais tarde, quando se tornam adultos. E enquanto eles piam e esperam, a mãe voa feito louca pra cima e pra baixo atrás de comida para o rebento. Mãe é mãe.
E o instinto materno vai além, superando diferenças, preconceitos e julgamentos. O melhor exemplo disso é a maneira como diversas espécies de aves fazem boa parte do trabalho de reprodução do chupim (Molothrus bonariensis), ave considerada parasita porque não constrói ninho e nunca cuida dos seus próprios ovos. Após o acasalamento, a fêmea chupim segue fêmeas de outras espécies que estejam preparando seus ninhos e põe de 4 a 5 ovos, um no ninho de cada uma. Esses ovos eclodem após um período normalmente mais curto que o dos outros ovos do ninho (mérito da mãe, que escolhe ninhos de espécies com incubação mais longa) e os bebês chupim, assim que nascem, costumam empurrá-los para fora, eliminando seus "irmãos".
Mas para a mãe dona do ninho, nasceu na casa dela, é filho. Então começa a fase de cuidar de alguém muitas vezes bem maior que ela e com características completamente diferentes das suas. É o filho adotivo. Mas não importa se é de barriga, de ovo ou de coração. Mãe é mãe, filho é filho e cada um faz direitinho o seu papel.
Nas diversas casas onde já morei sempre vi mães tico-tico adotivas, mas a literatura especializada da conta do registro de mais de 50 espécies de aves criando filhos chupim. É por isso que você provavelmente já ouviu usarem a expressão chupim em referência a alguém folgado, que se aproveita dos outros. Taí a explicação. E o livro Aves Brasileiras e Plantas que as Atraem, de Johan e Christian Dalgas Frisch, conta que há uma lenda da tribo guarani que diz que, em certa época, os gaviões e falcões da alta estirpe lutavam contra outras espécies, entre elas os urubus, para conquistar a supremacia das aves. Vencida a batalha, seguiram-se cenas vandálicas, e junto com as depredações praticadas queimaram a casa do chupim, que escapou da morte porém queimou-se muito, ficando com sua bela plumagem enegrecida. Os chupins, com medo de futuros incêndios, nunca mais fizeram ninhos.
Seja lá qual for a explicação, o fato é que, entre pessoas, aves e outros diversos animais, mãe é quem cria. Veja as adoções do meu quintal:
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Amei o vídeo, mágico mesmo,parabéns, bjs. Concordo.
ResponderExcluiradorei , o blog !
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