segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Alho mineiro - o Allium sativum de variedade incógnita


Conheci o alho mineiro (Allium sativum var. ?) pelas mãos da Cidinha, que conheci pelos frutos da Missão Cambuci. Ela, o marido Winfried e o filho Daniel vieram ao sítio ver minhas experiências com a espécie em extinção e me trouxeram dentes do alho de presente. Mal sabia eu que o alho mineiro é uma variedade de alho com pouca informação disponível. Não deve estar correndo risco de extinção, mas não sei porque não se fala muito dele em lugar nenhum.

Naquela época ainda não tinha pesquisado nada, só fiz o que a Cidinha mandou. "Enterre os dentes no final de abril e pronto. É como qualquer outro alho, nasce fácil e de cada dente enterrado nascerá uma planta, que produzirá uma cabeça inteirinha". Enrolei um bom tanto e acabei só plantando em meados de junho, mas logo vieram os primeiros brotos e realmente tudo aconteceu sem problemas; não tive cuidado nenhum além das regas frequentes. Enterrei os dentes a 15 cm de distância uns dos outros, todos germinaram bem, não deu praga nenhuma, tudo fácil.

Já se passaram seis meses e nada das folhas secarem - essa é a dica do momento certo para desenterrar as novas cabeças de alho originadas pelas plantas - mas nesses dias teve surpresa boa: lindas flores lilases enfeitando o canteiro e atraindo insetos polinizadores. Diferente de outras flores, que em botão têm as pétalas enroladinhas, as do alho vêm em um buquê que nasce espremido, embrulhado por uma película fina que um dia arrebenta como numa explosão de fogos de artifício.



Dias depois, na recepção de um prédio de consultórios em São Paulo, descobri que aproveita-se a flor do alho em arranjos ornamentais.


Pelo jeito o alho de qualquer espécie e variedade é bom para tudo, e a julgar pela quantidade de vezes que o prefixo anti e o sufixo protetor aparecem em suas propriedades, ele tem vocação para panaceia. É antitrombótico, antifúngico, antibacteriano, antioxidante, antitumoral, hipotensor, hepatoprotetor, cardioprotetor, hipoglicemiante...
Antigamente era utilizado na conservação de carnes e até na de cadáveres; os egípcios utilizavam-no em parte do processo de mumificação dos mortos.

As características do cultivo do alho são bastante específicas, e eu não sabia de nada disso quando plantei os meus: a planta prefere solos leves, ricos em matéria orgânica e bem drenados. Terrenos úmidos atrapalham o bom desenvolvimento das raízes, o que prejudica a nutrição e interfere na formação dos bulbos, as cabeças de alho. Depois de enterrar os dentes de alho com a ponta para cima deixando uma camada de terra de 2 a 3 cm sobre eles, deve-se espalhar palha ou folhas secas sobre a superfície do canteiro, assim a temperatura no subsolo se mantém menor do que a do ar, e é de solos mais frios que a planta do alho gosta.

O processo de colheita deve ser iniciado quando as folhas começam a amarelar e secar. Arranca-se as plantas inteiras, e se isso é feito durante um período sem chuva a durabilidade do alho é favorecida. Se a colheita for feita pela manhã, em dias secos e ensolarados, melhor ainda. Depois de arrancadas, as plantas devem ser dispostas sobre o canteiros com os bulbos direcionados para o nascente, com as folhas de uma fileira cobrindo os bulbos da fileira anterior. Esse é o processo de cura preliminar.

Depois de 3 dias de exposição indireta à luz solar, os bulbos passam para um processo de cura mais lenta, feito em galpões parcialmente iluminados, muito secos e arejados. Durante esse período, que pode variar de 20 a 60 dias, acontece a perda gradual de umidade que garante as propriedades do alho e favorece sua durabilidade. No caso de enrestiar o alho (réstia: trança feita com os caules e folhas de alho e de cebola), o processo de cura pode ser mais curto, já que é necessário manter um pouco da umidade nas folhas para trançar as réstias. E depois delas prontas a cura continua, já que as folhas ali trançadas continuam favorecendo a lenta perda de umidade pelos bulbos.

Os que ganhei da Cidinha foram produzidos, colhidos e curados por ela mesma, e foram esses os primeiros alhos mineiros que conheci. Eles são a cara do alho comum, mas um tanto maiores, de pelezinha branca transparente e têm sabor bem mais suave. Também me pareceram um pouco mais suculentos, mas não sei se são sempre assim ou se isso varia de acordo com o tempo de cura.

E agora, pesquisando para escrever esse post, descobri que pouco se fala e se cultiva dessa variedade. Na internet, pouca coisa encontrei, e nos livros e manuais sobre horta a que tive acesso trata-se todos os alhos como um só, apesar da frequente menção de que existem mais de 600 variedades.

O meu mineiro, discreto e misterioso, ainda não colhi, mas estou curiosíssima. Por enquanto curto só as flores, mas mostro o resultado da produção quando chegar a hora.
Será que se dão bem em vasos?

13 comentários:

  1. Engraçado, Juliana: sou mineira e nunca tinha ouvido falar do subtipo 'mineiro'. Gosto e uso muito alho, para quase tudo. Gosto do sabor e já sabia das suas inúmeras propriedades na prevenção de doenças e manutenção da saúde. Agora, uma dica - um 'pitaco', melhor dizendo: ao fritar o alho, no momento em que o aroma subir, desliga-se o fogo e reserva-se para o preparo. Ele vai entrar na composição ao final do cozimento, porque se ficar mais do que 6 exatos minutinhos cozinhando perde suas maravilhosas propriedades, que advêm da alicina, seu princípio ativo.
    Vou procurar o 'mineirim' para cultivar já que as flores são decorativas e devem também funcionar como espanta-insetos, por causa do cheiro.
    Obrigadíssima pelas informações. Um grande abraço, Angela
    http://noticiasdacozinha.blogspot.com

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  2. Querida Juliana, passando pra deixar votos de um Feliz Natal e um Ano Novo repleto de saúde, paz, harmonia, prosperidade e muitas alegrias junto aos seus familiares. Um grande beijo, com carinho

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  3. Boa tarde Juliana, Em primeiro lugar queria te desejar um feliz natal e um ótimo ano novo.
    Gostei da idéia e do artigo. Onde será que eu consigo alguns bulbos desse alho para eu plantar aqui em Vinhedo-SP? Agora que sai do ap e estou morando numa chácara a horta está cada dia melhor. Quero começar a plantar hortaliças. Por enquanto estou plantando só tomates, ervas aromaticas e temperos. Essa semana comecei a plantar umas rúculas. Vamos ver no que dá.
    Abraços Marcio

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  4. Como diz um amigo, "só li as figuras". haha
    Desculpa.
    Mas olha, a minha avó também fazia arranjos com flor de alho e em casa sempre achamos lindos.
    A variedade que ela tinha tendia um pouco mais pro azul, muito bacana.

    Muitas felicidades pra ti no ano novo.
    Vamos ver se a gente se comunica mais nesses próximos meses?
    Beijos!

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  5. Moro em Minas e nunca ouvi falar do alho mineiro...

    Conheci as flores do alho na casa de uma amiga onde elas enfeitavam uma jarra. Para mim foi uma surpresa enorme, pois não podia imaginar que alho dava uma flor tão linda e sem cheiro de alho !!! Elas eram brancas e bem grandes.

    "Na Roda do Ano, que não tem começo nem fim, vamos caminhando sempre, mas a cada volta existe a possibilidade de fazer melhor, viver melhor, aprender mais e ser mais feliz !"

    Feliz Ano Novo !
    Beijo

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  6. Angela, este ano plantei alho poró e não colhi todos. Acabaram florescendo com flores muito parecidas com as da foto. Semana passada desenterrei e colhi vários dentes, bem grandões e mais suaves que o alho comum. Fiquei em dúvida se eu plantei alho mineiro ou você que plantou alho poró?
    Abração. Adoro teu blog.

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  7. Desculpe, corrigindo. Onde lê-se Angela, leia Juliana rsrsrs

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  8. Angela, obrigada pela dica dos 6 minutos, dessa eu não sabia. Você e sua super experiência... Beijo!

    Josy, um 2013 muito especial para você também. Muito obrigada e um abraço forte.

    Marcio Severo, que legal que está morando em sítio e a horta já está crescendo. So que não tenho ideia de onde você pode encontrar alho mineiro. E pior é que nem sei se eu ainda terei, porque demorei para colher e não sei se o meu deu certo. Se descobrir, volto para te contar. Um abraço e ótimo 2013 pra você também!

    Flora., obrigada pela visita, um ótimo ano pra você também, escreva mais no seu blog e vamos ver se nos falamos mais, sim. Vai ser legal.
    Beijo!

    Flora Maria, a flor é mesmo linda, e interessante poder aproveitar tudo do cultivo da planta, não? Obrigada pela citação e um ótimo ano novo pra você também. Um abraço.

    Fernando, certeza absolutíssima que eu plantei alho mineiro, então... acho que você também! Mas que coisa doida essa sua dúvida. Não sei se tem como se confundir porque, até onde eu sei, a gente planta alho poró de semente, e alho comum ou alho mineiro com os dentes, então você sempre sabe o que está plantando. Deu pra entender? Bom, sei lá. Abração pra você também e volte sempre!

    Juliana.

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  9. Oi Juliana, a confusão é grande mesmo. O alho poró também pode ser plantado por meio dos dentes. Eu esqueci uns pés na horta, que floresceram e depois secaram. Meses depois surgiram várias mudas. Desenterrei e vi que estavam brotando dos bulbos que ficaram no solo. Depois disso comecei a plantá-los assim pois é bem mais rápido do que o cultivo por sementes. Abraço.

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    1. Fernando, não sabia disso, obrigada por compartilhar. Vou esquecer uns de propósito na horta, pra ver como acontece.
      Abraço!
      Juliana.

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  10. Oi, pela descrição que você fez e pelas fotos, esse alho parece ser o Allium ampeloprasum, a espécie de alho que originou o alho-poró (Allium porrum), e que às vezes é chamada também de "Alho elefante", por ter tamanho maior que os outros. É maravilhoso assado na churrasqueira, mas você já deve ter descoberto isso.

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    1. Umbrios, obrigada pelo comentário, eu não conhecia esse nome Allium ampeloprasum. Pode ser sim. Eu ainda não assei o meu na churrasqueira, mas o alho comum no forno já fica maravilhoso, então posso imaginar!
      Um abraço e seja sempre muito bem vindo!
      Juliana.

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  11. É igual ao alho poró! :)

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