Podalia sp., a Lagarta cachorrinho ou Lagarta gatinho |
'Inda bem que não tem feito tanto calor nesses dias, porque agora, para trabalhar aqui, só de calça, mangas compridas e luvas. Desde meados de fevereiro temos encontrado taturanas por todo o sítio, e de lá pra cá são poucos os que ainda não sentiram na pele o poder de fogo dessas peludas. D. Neuza deu só uma triscadinha, Seu Nelson encostou pra valer, Yuri, Rose e Reginaldo deram uma boa raspada e Flores esfregou o mesmo braço em duas delas num intervalo de uma hora. De todos eles ouvimos a mesma coisa: nossa, como isso doi!
A primeira sensação é de uma queimadura na pele, e logo em seguida vem a íngua - uma dor forte acompanhada da impressão de ter uma bolinha de ping pong na axila se a taturana encostou no braço, e na virilha se ela encostou na perna. Depois de um certo tempo alguns sentiram também a dor se espalhar por uma área maior no entorno do local atingido.
Assim que acontece de encostarem no bicho e alguém vem me contar, vou logo oferecendo de levar o acidentado no posto de saúde. A maioria não quer ir, alguns por medo de injeção, outros por macheza, segundo vieram fofocar. Mas outro dia um deles achou melhor ser atendido, e fomos nós para o postinho. Antes de sair fiz uma foto da fera, para não ter que levá-la junto.
O rapaz ganhou uma injeção de analgésico na veia e uma pomadinha para a queimadura. Não há mais o que fazer. Mas foi bom ter ido, assim aprendi um pouco mais para orientar com segurança nas próximas vezes (quase inevitáveis, infelizmente). Os modelinhos de taturana que temos aqui não matam nem causam sequelas graves além da queimadura, que escurece a pele por uns dias e doi a valer. Nosso recorde populacional é da taturana que chamam de lagarta cachorrinho ou lagarta gatinho, do gênero Podalia.
Lagarta cachorrinho de frente (se é que eu acertei onde fica a frente) |
Bonitinhas que são, se elas não queimassem bem que poderiam ser alçadas à categoria de animais de estimação e eu ficaria rica, mas queimam, e é por isso que são chamadas de taturanas ou tataranas. Na língua tupi "tata" quer dizer fogo e "rana" significa semelhante. A sensação de queimadura acontece porque, com a pressão, os pelos da taturana comprimem as glândulas de veneno que ficam sob eles - como o êmbolo sob a agulha, numa seringa - e a toxina é injetada na pele, causando reação instantaneamente. Os médicos relatam casos de gente que, ao encostar no bicho, leva a área atingida à boca, passando o veneno para a língua e os lábios, que em seguida começam a arder também. Depois vem a íngua na língua, que é rima engraçada mas de tanto que doi não tem graça nenhuma.
Se acontecer com você de encostar numa dessas, antes de mais nada deixe bastante água da torneira correr pelo local atingido e lave com sabão comum. Não esprema, não fure, não faça sucção com a boca nem coloque nada sobre a pele. Passar manteiga, pó de café ou pasta de dentes não ajuda e ainda pode piorar a reação alérgica. Se puder, vá ao posto de saúde nem que seja só para ganhar um analgésico. A gente fica sempre mais tranquila quando é atendida por um profissional. Parece até que a dor passa mais rápido.
Mais graves são os acidentes com taturanas Lonomia obliqua e Lonomia achelous, duas das poucas espécies potencialmente letais no país. O veneno delas tem componentes anticoagulantes que podem causar hemorragia e insuficiência renal, e em alguns casos levam pessoas à morte, principalmente no sul do Brasil, onde são mais frequentes. Sintomas como dor de cabeça, náusea e vômitos também ocorrem nesses casos, além de manchas roxas pelo corpo (não só no local da queimadura) de 3 a 4 horas após o contato com o animal. Todas essas são reações importantes que indicam que o acidentado deve ser levado rapidamente a um posto médico para receber o soro antilonômico, produzido em São Paulo pelo Instituto Butantã.
Para identificar as taturanas do gênero Lonomia (com tônica no segundo O) observe se o animal tem o corpo marrom com espinhos verdes em forma de pinheirinho, o dorso com listra marrom contornada de preto e algumas manchas brancas.
Lonomia obliqua - Foto do CIT Santa Catarina |
Veja também o documento produzido pelo Centro de Informações Toxicológicas de Santa Catarina, neste link, e assista ao vídeo da TV Saúde Paraná, onde a Dr. Gisélia Rubio explica mais sobre locais de ocorrência da Lonomia sp. e sintomas graves pós contato.