sexta-feira, 26 de abril de 2013

Liquidificador de manivela - você tem a força!


Sim, um liquidificador manual, para botar o muque para funcionar e testar seu torque. Confesso que logo que ganhei, pensei "Nunca vou usar. Se não tivesse a versão elétrica, talvez, mas como já tenho..."

Ledo engano. Não sei se é pelo romantismo, pela economia de energia, pela atividade física ou por todas as opções anteriores, mas os sucos de frutas aqui nunca mais foram feitos de outra maneira. Claro que quem tem bracinhos magrelos como os meus não pode querer triturar cebola inteira ou bater amêndoa até virar farinha, mas a traquitana é super útil para muitos dos preparos de todo dia.

Serve também para mostrar para as crianças (e para os adultos de pouca memória) que a engenharia mecânica sobrevive sem a engenharia elétrica, e que um dia tudo funcionou na base da força física. Além disso, quebra um galhão no pique-nique, no acampamento ou na roça, onde a vida funcionará sempre num outro ritmo, senão deixará de ser roça.

Atualização em 3mai: não sei onde meu liquidificador foi comprado (ganhei de presente) e a única coisa que aparece escrita nele é a palavra UNIVERSO. Suponho que seja a marca. Pesquise na internet e verá que é fácil encontrar alguns modelos e variações de cor.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

A metamorfose da borboleta, por Hélio Ziskind

Depois de alguns dias envolvida e postando sobre lagartas e casulos, recebi do Luciano Azzolini - um amigo de pouco tempo mas já muito parceiro - dois links para a música Metamorfose da borboleta, do Hélio Ziskind. Num deles ela é cantada pelas galinhas do Cocoricó, e o outro mostra o próprio Hélio com sua banda apresentando a música no SESC Vila Mariana, em São Paulo.

Hélio Ziskind é músico e compôs temas para diversos programas como Repórter Eco, Nossa Língua Portuguesa, Castelo Rá-tim-bum e Cocoricó, entre muitos outros. Quem tem criança em casa sabe da inteligência e do poder de encantamento das músicas dele, e certamente já se pegou cantarolando muitas delas sem nem o filho presente.

Assista a esses dois vídeos e me diga se essa música, que eu não conhecia, não é 
E-S-P-E-T-A-C-U-L-A-R!



Obrigada, Luciano!

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Notícias do borboletário - o primeiro casulo


Lagarta número 1 sentiu que estava chegando a hora de se transformar e, no quarto dia da montagem do borboletário, partiu em busca de um canto aconchegante para pupar. Deu muitas voltas, examinou ângulos, esquinas e áreas livres e acabou optando por uma caverninha no tronco maior.  Eu, que achava que ela ia se pendurar, estava enganada. Descobri que foi bom ter colocado madeiras à disposição das hóspedes.

Também entendi a sugestão do João Angelo de cobrir o fundo do vidro com vermiculita. Algumas lagartas fazem aquela crisálida penduradinha que encontramos frequentemente presas às paredes, e outras fazem seus casulos juntando gravetos, pedacinhos de plantas e gominhos de terra. As que se penduram se viram sozinhas, mas para as outras é preciso disponibilizar "material de construção". Acho que é assim.

Na foto lá do alto está o início dos trabalhos, às 14h05m, sob supervisão de uma companheira que passava pelo local. Em seguida estão a etapa do meio, às 18h29m, e a casa pronta, no dia seguinte ao meio dia.




Para quem gosta de acompanhar passo a passo a engenharia da coisa, vai mais um video. E volte logo, que devemos ter mais novidades nos próximos dias.


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Como fazer um borboletário


Parecia até que o dia ontem estava ganho. Fingi que não tinha mil coisas a fazer e passei a manhã toda às voltas com a preparação de um borboletário; finalmente, depois de tantas lagartas!

A última turma que apareceu aqui foi de Automeris sp., uma das espécies mais bonitas que conheci nesse ano. Encontrei algumas delas comendo as marantas de um canteiro novo, que ainda nem acabei de plantar. Eu trabalhando em uma ponta e elas comendo o que eu havia acabado de plantar na outra. Oportunidade melhor, impossível.

Nas semanas que passaram andei guardando umas e outras lagartas em vidros, a maioria lagartas-cachorrinho, mas estava meio improvisado porque os vidros eram pequenos e mal cabiam as folhas para alimentar as aprisionadas.

Pois ontem acordei profissional e resgatei um aquário de 45 litros embrulhado há anos. Nem precisava ser tão grande, mas o espaço foi perfeito pra brincar de paisagista oriental e fazer um jardim zen para as meninas. Junto com o vidro tinha guardado alguns pedaços de toco de madeira que faziam parte do aquário, e usei também no borboletário. Decoração absolutamente desnecessária no quesito funcionalidade, mas fez toda a diferença na boniteza final.


Segundo João Angelo, técnico do Laboratório de Entomologia e Acarologia da ESALQ, para fazer um borboletário básico você só precisa de um vidro com um pouco de substrato no fundo (pode ser terra ou vermiculita) e das folhas que a lagarta estava comendo quando você a encontrou. É que cada espécie de lagarta tem hábitos alimentares específicos, e pode ser que seja difícil descobrir, na base da tentativa e erro, o que vai apetecer a uma lagarta que você encontrou andando por aí. Você pode tentar folhas de couve, de repolho, mas é bem mais garantido conseguir alimentar uma que você tenha encontrado comendo. É só manter o cardápio que ela escolheu.

Além disso, muitas vezes encontra-se lagartas já andando à procura de um lugar onde vão passar pelo processo de metamorfose, e nesse momento elas não querem mais comer, não adianta oferecer alimento. Nessa fase elas precisam mesmo é de um lugar seguro onde vão virar pupa. Esse é o nome do casulinho que constroem quando chega a hora de mudar de estágio. Algumas pupas são chamadas de crisálidas por causa da coloração dourada que têm. Em grego, chrysós significa ouro. E uma curiosidade bem legal: aurélia (aurus é ouro em latim) foi um termo usado no passado para as crisálidas, e dele surgiu aureliano, que é quem estuda o processo de saída da borboleta da crisálida.

Enfim, se você quer acompanhar um lepidóptero em transformação, colete uma lagarta ainda se alimentando e com um pouco de sorte você vai vê-la borboleta.

Conheci o João Angelo enquanto navegava tentando identificar espécies, e escrevi pra elogiar o blog que ele escreve sobre borboletas e perguntar se ele não gostaria de identificar as que fotografei. Ele, super simpático, me respondeu sugerindo que eu fizesse o borboletário, porque é mais fácil identificar os indivíduos adultos (borboletas e mariposas) do que os imaturos (lagartas e taturanas) que tenho mostrado aqui no blog.


Lavei o aquário, coloquei vermiculita no fundo (por acaso tinha comprado recentemente, para o viveiro), ajeitei os tronquinhos e fui coletar folhas e lagartas. Já tinha percebido que as folhas de maranta enrolam rapidamente depois de cortadas, e murchas assim as lagartas não querem, então instalei dois vasinhos de vidro com água dentro do borboletário para manter as folhas mais frescas até serem devoradas.

Com pauzinhos e a ponta de uma tesoura caçei uma a uma as sete peludas que encontrei, e com paciência fui passando todas para dentro da casa nova, convencendo-as de que as instalações são de primeira.


Nos primeiros minutos andaram bastante, fazendo o reconhecimento da área. No vidro não conseguiram subir - acho que ficou escorregadio depois da limpeza - mas logo encontraram as madeiras e as folhas.


O nhac-nhac começou em poucos minutos e logo já davam cabo de grandes pedaços de folhas. Como comem! E como "descomem"! Em menos de uma hora os cocozinhos pretos já caíam na vermiculita.


Hoje foi o dia 2 do borboletário; vamos ver quanto tempo dura a brincadeira. Enquanto isso deixo vídeos, para quem quiser passar minutos a fio assistindo junto comigo ao hipnotizante programa A vida das lagartas. 

 



Veja também: - Notícias do borboletário - o primeiro casulo

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Presentes criativos e carinho à moda antiga


Sempre fui dos presentinhos personalizados, e mais ainda agora, vivendo em sítio, curtindo coisas plantadas, colhidas, feitas... Para a maioria dos amigos e parentes não sei mais sair para escolher um presente. Tudo me parece muito genérico, pasteurizado e repetido, e sempre acabo achando que algo que eu faça com carinho vai ser muito mais bem recebido do que algo de loja. Ou estou perdendo a prática de fazer compras ou estou ficando especialista em inventar presentes feitos por mim. Ou os dois, e que bom!

Hoje de manhã sentei para escrever uma carta à mão, afinal, se um pacotinho vai pelo correio cruzando oceanos para levar um presente, tem que levar junto uma carta à moda antiga, muito mais gostosa de receber do que um e-mail. E que coisa diferente, escrever uma carta no papel. Chega uma hora em que a letra começa a ficar troncha, denunciando que a mão não tem mais costume de escrever algo tão longo. Descobri que perdi a prática e a musculatura adquiridas nas aulas de biologia da professora Ester, quando fazia cadernos gordos, lindos, todos coloridos, anotando sobre células, mitocôndrias, fagocitose...

Das pulseirinhas de linha que tecia na adolescência ainda tenho prática, e fiquei feliz de ter tido a ideia de dá-las de presente acompanhando uma camiseta confortável. Eram o tipo de presentinho que todas as meninas gostavam de ganhar, e ainda hoje as mesmas meninas, já crescidas, curtem um enfeitinho feito à mão, desses de feirinha de praça. Pois foram num pacotinho as pulseiras, a camiseta e uma carta, e a essa hora já começaram a viagem internacional.

***

E no sábado acho que acertei mais um presente diferente, desta vez infantil. Porque se tem uma coisa que anda difícil é escolher presente pra criança. Tudo é eletrônico e funciona sozinho. Você dá o brinquedo, os pais colocam as pilhas e o pequeno fica olhando a coisa brincar. Carrinhos andam por conta própria, bonecos falam e instrumentos tocam ao simples apertar de um botão (quando não é por comando de voz).

Mas a tia aqui se rebelou a vai remar contra a correnteza! Nico fez dois anos e ganhou de mim um regador e um tomateiro. E não foi uma escolha aleatória, não, foram presentes escolhidos a dedo. O regador porque a figura adora água e descobri que também gosta de regar a grama. Foi o que fizemos juntos aqui em casa no final de semana passado. "Tia Jumbis, mais", ele dizia pra mim. E mais, mais, mais, até a barra da calça ficar ensopada, daí paramos pra não levarmos bronca dos pais. O tomateiro foi escolhido por ser hortaliça que produz fácil em vaso, e até dá pra comprar já com frutos (eu não tive a ideia a tempo de plantar um, então comprei). Como Nico é um menino dos espertos (filho de mãe consciente), já conhece e come numa boa cebola, ervilha, brócolis, tomate... Aponta o dedinho, fala o nome e pede mais.

Está ou não está na hora de aprender a cuidar da comida que gosta de comer? Mal é que não vai fazer!


PS: acabei não produzindo um super embrulho mas inventei um jeito curioso de juntar o kit regador + tomateiro. Foi só espetar um arame grosso na terra do vaso e enfiá-lo pelo bico do regador pra conseguir o efeito de uma mão invisível regando a planta. Ele olhou aquele regador levitando, foi logo passando a mão e rumando em direção à torneira, de sorriso no rosto. Já é dos meus.


quinta-feira, 11 de abril de 2013

Para o almoço, dióxido de titânio, inosinato dissódico, estearoil lactilato de sódio, hidroxipropilcelulose e mais! Ou como bater chantilly

Mix 7 vegetais desidratados

Dia desses, depois de preparar uma fritadinha gostosa de PTS (proteína texturizada de soja) para o almoço, aproveitei uma troca de e-mails com a Neide para perguntar se ela acha o caldo de legumes industrializado uma criatura muito do mal.
A resposta veio logo, e como eu desconfiei que viria: não gosto do caldo.

Depois disso é que fui ler na caixinha a lista dos ingredientes que tinha acabado de usar. Descobri que se tivesse lido antes nem precisava ter perguntado. Repare:

sal, gordura vegetal, amido, açúcar, cebola, espinafre, alho, cenoura, cúrcuma, alho poró, salsa, repolho, tomate, pimentão vermelho, aipo, abóbora, pimenta do reino branca, realçadores de sabor glutamato monossódico e inosinato dissódico, emulsificante mono e diglicerídeos de ácidos graxos, corantes dióxido de titânio e caramelo IV e acidulante ácido cítrico.

Pra começar, o tamanho das letras na embalagem já é uma afronta. Ainda não estou na idade da vista cansada mas tive dificuldade de desvendar as palavras desconhecidas. As informações "número 1 do Brasil em vendas" e "sem conservadores" aparecem grandes, destacadas, mas o dióxido de titânio (!!!) está mesmo muito bem escondido. A foto da lista de ingredientes (abaixo) foi feita de muito, muito pertinho, por isso você pode ler, mas tente na caixinha e você vai entender o que eu digo.

Caldo de legumes - ingredientes

Dos caldos de carne e de galinha, entre outros, já tinha ouvido falar que são feitos dos restos dos animais que ninguém se atreve a comer, e que quem já viu de perto o processo de produção nunca mais põe um cubinho desses na comida. Eca.

Junto com não gosto do caldo a Neide me sugeriu ter uma caixinha com várias especiarias para combinar na hora, ou já deixar a misturinha pronta pra dar mais graça aos pratos, o que nada mais é que a parte boa do caldo de legumes. Desidratados, todas essas coisas duram bastante e a gente usa do jeito que preferir.

Agora olho de esguelha para o resto da minha caixinha de cubos e não quero mais usar. E como ainda não deu tempo de fazer um bom passeio por um desses mercados municipais onde se encontra de tudo a granel, ando à caça de temperinhos diferentes em supermercados comuns mesmo. Não é muito fácil encontrar algo desidratado além dos óbvios alho e cebola, salsa e cebolinha, pimenta do reino, orégano, manjericão e outras ervas que já tenho na horta, mas num supermercado diferente achei um simpático mix de sete vegetais que apeteceu.

Mix 7 vegetais - ingredientes

É aquele lá da foto no início do post. Já usei em refogado de legumes, risoto e ontem à noite numa sopa. É gostoso e realmente enriquece um pouco o sabor da comida, além de te livrar dos glutamatos, dos inosinatos e do dióxido de titânio, que é ótimo pra remendar quem quebra os ossos mas na minha refeição eu não quero, muito obrigada.

* * *

E alguns dias depois do episódio do caldo de legumes me peguei dando mais uma mancada parecida: para receber visitas em casa fiz uma sobremesa que gosto de enfeitar com chantilly, e com medo de me atrapalhar com a quantidade de preparos e ainda ter que bater creme de leite, acabei comprando o chantilly pronto, em spray. Foi uma dessas decisões que a gente toma sem pensar, porque pensando por 3 segundos eu teria optado mesmo pelo creme de leite fresco.

Primeiro porque o spray de chantilly é aerado, e isso faz com que ele fique bonito só por alguns minutos em cima da sobremesa. Logo se percebe que aquela decoração bonita que você fez está murchando, e em pouco tempo aquilo vira uma coisa branca derretida horrível.
Segundo porque, para economizar cinco minutos de batedeira e o trabalho de colocar o chantilly dentro de um saco com bico de confeitar, eu troquei isso:


por isso:

Spray de chantilly - ingredientes

Então, caro(a) amigo(a) doceiro(a) inexperiente, não tenha preguiça e também não acredite se um dia alguém te disser que bater chantilly é uma arte, que dá trabalho demais porque suja a batedeira e o saco de confeitar ou que é perigosíssimo você perder tudo porque bateu demais e produziu manteiga.

Encare o desafio e aprenda a bater chantilly: compre creme de leite fresco, dê uma gelada extra nele colocando a embalagem no congelador por 15 minutos (ligue o timer!), tire sua batedeira do armário e fique olhando enquanto ela trabalha pra você. Vai demorar de 2 a 4 minutos para você ter um creme fofo, grosso e branquinho, com ondas bem marcadas. Na dúvida, pare a batedeira, enfie o dedo naquela gostosura e prove, pra saber se está como o chantilly que você conhece. Se ainda estiver muito mole, bata mais um pouquinho. Não demais senão realmente passa do ponto, mas se suas visitas não estiverem com o dedo na campainha, isso não é nenhum drama e serviu para você aprender a fazer manteiga!

terça-feira, 9 de abril de 2013

Flores na salada. As folhas são só um detalhe


Pode-se dizer que flores na salada são ingredientes perigosos. Depois que você começa a usá-las, nunca mais consegue parar. As saladas "comuns" perdem a graça e você nunca mais vai achar bonito um monte de folhas sem flores. Acredite, eu sei do que estou falando, aconteceu comigo.

No sábado tive visitas para o almoço e preparei uma salada de folhas com bolinhas de ricota e flores de gervão (já falei dele aqui). Lindo e gostoso, o prato fez sucesso. É nessas horas que a gente percebe como uma apresentação caprichada faz toda a diferença, porque as folhas eram as de sempre, a ricota era branquela como todas são e o prato poderia ter sido montado de um jeito qualquer, mas as mini-flores ganharam elogios pelo todo.

Não importa se você usa só uma florzinha ou muitas delas. A comida fica mais chamativa, a mesa fica mais colorida e todo mundo se encanta. É como passar um batonzinho antes de sair, ou colocar um broche ou um lenço sobre a camiseta lisa. Duvido você achar que fica melhor sem.



segunda-feira, 8 de abril de 2013

Atrasada para o post principal


Depois de saber que as colegas estavam aparecendo na internet, a atrasadinha chegou esbaforida na varanda, pedindo para ser fotografada também. Merece, não merece?
(juro, acabou de aparecer, enquanto eu postava sobre as outras!)

Lagartas e taturanas da coleção primavera/verão 2012-2013 - parte 2


A de cima quer ser dragão chinês quando crescer, e a de baixo já sabe se mimetizar de líquen nos troncos de árvores.


Tem as que carregam muitos pinheirinhos amarelos, 


e as que levam uns brancos também, para variar.


Umas acham que são ouriço, mas parecem mesmo escova de tanque de dona de casa moderna.


No departamento infantil as crianças dividem a mesma folha, passeando de bundinhas levantadas...


 ... e descansando em pose de coração.



Levante a mão quem tem coragem de jogar veneno e matar toda essa biodiversidade.


quinta-feira, 4 de abril de 2013

Lagartas e taturanas da coleção primavera/verão 2012-2013 - parte 1


Um dia, se eu tiver mesmo galinhas, pode ser que diminua um pouco a variedade de lagartas e taturanas que temos atualmente, e vou sentir saudades de encontrar criaturas tão caprichosamente desenhadas como as que conheci esse ano.

Enquanto algumas enormes parecem inofensivos brinquedos feitos para bebê morder, como a da foto acima, outras, tão pequenas, não têm onde carregar mais espinhos.


Tem as discretas


e as sofisticadas.


As singelas 


e as exageradas.

Automeris sp.

No próximo post tem mais. Um time de preferidas que deixei por último para arrematar o desfile.


quarta-feira, 3 de abril de 2013

Imprevistos rurais e a vontade de criar galinhas

Quando a vida acontece numa cidade, os imprevistos domésticos costumam vir em forma de um carro parado em frente à sua garagem, o saco de lixo que estoura antes de você chegar na calçada e o nível da água da chuva subindo na rua enquanto você está preso no trânsito.

Mudar-se para uma área rural significa ficar livre do vizinho que sapateia no andar de cima mas também traz surpresas impensáveis, como encontrar um crânio de vaca logo na entrada do sítio.


Nos primeiros minutos só consegui pensar na possibilidade de macumba; sei lá, essas coisas esquisitas que deixam na porta da casa das pessoas... Mas depois, pensando melhor, por que fariam uma coisa dessas?


A explicação veio assim que a vaca apareceu no jardim na boca de um caçador malandro que não passa dois dias sem aprontar uma boa.


Depois de passado o episódio do crânio para roer, hoje tivemos mais um assunto rural interessante a resolver. Há alguns dias o vizinho ligou pedindo nosso empenho no fechamento dos buracos da cerca.

- Buracos, mas que buracos? Nós já fechamos todos!
- Então tem um novo, vizinha, porque um cachorrinho preto daí passou para cá nas últimas noites e acabou com os nove pintinhos de uma galinha bonita que comprei pra minha esposa.

E toca nóis procurar um kit "galinha com pintinhos" à venda, pra tentar amainar o sofrimento da vizinha que perdeu sua ninhada de pintainhos. Não foi fácil, porque pintinhos tem e galinhas também, mas galinha com pintinhos junto não se acha para comprar. Pergunta pra um, e pergunta pra outro, e todos diziam que só saindo pra bater de sítio em sítio, perguntando se alguém não venderia sua criação.

Acabamos na casa de uma família de caseiros que tem meia dúzia de galinhas e cria os pintinhos que nascem para vendê-los frangos. Galinha com pintinhos nunca tinham vendido, mas diante da história do cachorro fujão que comeu a criação do vizinho, cederam.

Na hora de escolher a turma, esses não pode porque a galinha é o xodó da minha filha e os pintinhos tão muito novinhos, bicaram só há três dias. Essa tinha mais pintinhos mas morreram uns quatro. Essa outra pode mas os pintinhos já tão grandes, vocês querem menorzinhos, não é?

Acabamos escolhendo uma galinha altiva, bonita, com sete crianças de dez dias, cada uma de um jeito. Uma graça.
 


Voltamos com a família dentro de uma caixa, ouvindo no carro aquele sonzinho gostoso de piu piu de criança abafado por um crooooc crooooc rouco de mãe preocupada.


Depois de dez minutos quem já queria ficar com todos eles era eu. Que coisa mais bonita é quando a galinha deita e todos os pintinhos somem debaixo dela. E quando ela anda ciscando e todos os pequenininhos imitam atrás.

De volta em casa estacionei na internet e pesquisei um bom tanto sobre galinhas. Os americanos andam com mania de pequenos galinheiros na cidade, como uma maneira de ter ovos saudáveis e ainda produzir adubo orgânico e cuidar do jardim de forma natural (galinhas pastam, comem ervas daninhas, insetos...), além de trazer um pouco do ar rural para as grandes metrópoles.

Não faz muito tempo recebi um comentário da Paula Siqueira (no post Às vezes o bicho pega, sobre pragas), que conta que está na mesma onda, curtindo muito suas galinhas no quintal. Adorei e reproduzo abaixo:

Olá Juliana,
Sempre leio seu blog e adoro.

Recentemente, tenho tentado conciliar a minha horta com a criação de galinhas. E tem dado muito certo. Elas comem os próprios bichos ou as larvas dos bichos, mas não os exterminam, ou seja, são um excelente controle biológico. E não é só isso. Eu sempre vou completando os canteiros com serragem bem alta que, junto com as fezes das galinhas, vão virando uma compostagem no próprio canteiro, além de funcionarem como proteção contra o sol e a chuva.

As galinhas podem prejudicar, sim, um viveiro ou uma horta. Mas somente se houver mais galinhas do que o terreno comporta. Eu deixo elas soltas até mesmo na grama. Normalmente, é importante poder contar com diferentes espaços cercados para que você possa alternar – mas, mesmo assim, com a chuva, eu nem precisei fazer isso; tenho deixado elas soltas em todo o quintal e não há espaço que pareça abatido, pois há comida/mato de sobra pra elas!

Outra coisa legal de saber é que elas fazem mais estrago às raízes, ou seja, com o ciscar delas, do que às próprias folhas, e foi por isso que eu escolhi ter garnizés, que são aquelas lindas galinhas pequenininhas. Enfim, se elas não forem de jeito nenhum compatíveis com seu viveiro, é possível pensar em mantê-las em espaços cercados próximos ao viveiro, pois isso já pode ajudar a reduzir muito as pragas (por exemplo, meus cachorros viviam se coçando. Depois das galinhas patrulharem o quintal, não há mais aquele ‘coça-coça’)

As galinhas também podem ser ótimas para resolver o 'problema' do mato em excesso, que eu sei que vc tem, e eu também tenho aqui. Ainda não testei, mas é meu próximo projeto fazer um desses galinheiros móveis, que podem funcionar como uma espécie de capina e ao mesmo tempo adubação.

Muito do que eu aprendi eu li nesse livro ( http://www.amazon.com/Free-Range-Chicken-Gardens-Beautiful-Chicken-Friendly/dp/1604692375), que é muito, muito bom. Há também esse aqui (http://www.amazon.com/City-Chicks-Micro-Flocks-Chickens-ebook/dp/B0046H9IJM/ref=sr_1_1_title_1_kin?s=books&ie=UTF8&qid=1363204395&sr=1-1&keywords=city+chicks).

Infelizmente, eles são em inglês e a única coisa que achei em português que é mais parecida com as ideias desses livros – mas não igual – é Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS) (http://www.rts.org.br/publicacoes/arquivos/cartilha_pais.pdf)

Espero que isso possa ajudar, se não for literalmente, pelo menos a se inspirar e encontrar uma outra solução! E vou adorar se a gente puder continuar conversando e trocando ideias, pois sou totalmente novata nessas questões e estou aprendendo e lendo muito sobre como manter o quintal e a horta, utilizando técnicas e ideias que prezem pela eficiência com baixa manutenção!

Abraços!

Paula Siqueira



Agora a vontade não larga mais de mim. Quero ter galinhas. Não é para já, porque ainda há muito o que fazer antes de começar um galinheiro e, acima de tudo, é preciso resolver a intolerância dos cachorros com qualquer outro animal que não seja da mesma espécie que eles. Mas deixo aqui registrados, para quem mais quiser passar vontade, dois links de sites por onde andei que falam do básico necessário para criar penosas e como elas retribuem os bons cuidados.

- Cinco razões para criar galinhas, da revista Organic Gardening

- Você tem o que é preciso para criar galinhas? do site Rodale


terça-feira, 2 de abril de 2013

Cultive sua própria comida


Meus passeios pela Livraria Cultura costumam ser prazerosos até o momento em que encontro algum objeto de desejo lindo porém carésimo. Daí começa aquele sofrimento do compro ou não compro, compro ou não compro e normalmente acabo cometendo a loucura.

Só que no dia em que encontrei Grow your own food não foi assim.O livro é bonito, super ilustrado, cheio de dicas e informações sobre como plantar comidas no jardim (e em vasos), as fotos são lindas, a encadernação é caprichadíssima, tem capa dura com sobrecapa, a impressão é de muita qualidade e como se não bastasse custa barato! Por R$ 30,20 hoje em dia a gente mal compra um romance nacional de 200 páginas.

Comprei e recomendo muito. Você aprende desde o básico até as melhores ervas e hortaliças para plantar em cada começo, meio e fim de estação, dicas de semeadura, cultivo e colheita, como lidar com pragas e com os problemas mais comuns do dia a dia. O livro também tem receitas boas de pratos fáceis, sopas e saladas para preparar com a colheita da horta.

E além disso tudo você tem uma ótima oportunidade de treinar seu inglês e adquirir vocabulário útil. Vai que uma hora dessas você viaja e precisa pedir comida num lugar de língua inglesa? É fundamental saber o que são peas, leeks, cucumbers, cabbages, brussels sprouts, radishes... pra não ficar só nos potatoes e tomatoes, não é?

Grow your own food
Ivy Contract
Parragon Books
2010

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Sobre ovos (não os de Páscoa)

O menorzinho deve ser de Bico-de-Lacre (Estrilda astrild), e o maior é de galinha,
só como referência de tamanho

Quando era criança eu achava lindo ter coleção de alguma coisa. Muitas das minhas amigas colecionavam bichinhos de pelúcia e perfumes (as que já se achavam muito adolescentes), mas como nunca gostei de nada disso tentei colecionar selos, papeis de carta, canetinhas coloridas e outras coisinhas de menina.

Nenhuma das coleções foi pra frente, provavelmente porque eu ainda não sabia o mais importante: não basta achar bonito colecionar, é fundamental gostar do que se está colecionando. Você pode até não saber porque gosta, mas gosta muito.

Isso eu descobri há pouco tempo, quando comecei a juntar casquinhas de ovos de passarinho (e ninhos, mas fica para um outro post). No início nem pensei em colecionar, e acho que é assim que se começa de verdade. Eu pegava pra mim simplesmente porque não conseguia não pegar; achava bonito, curioso, interessante. Quando me dei conta já precisava de uma caixa para guardar minhas casquinhas, e depois de uma caixa um pouco maior, e assim foi indo. Hoje é oficial e já posso espalhar por ai: eu coleciono ovos de passarinho.


Desde o início da primavera minha coleção tem aumentado bastante. Andando pelo sítio encontrei ovos inteiros caídos do ninho, pedaços de casquinhas quebrados - alguns com jeito de acidente, outros de nascimento -, ninhos inteiros no chão com ovos recém postos já abandonados e até passarinhos recém-nascidos mortos ou agonizantes. É que bem na época de postura acontecem também as grandes tempestades, que frequentemente destroem até os ninhos mais caprichados.

Diversas vezes lamentei os ovos que não vingaram, os ninhos desmanchados pela água e os passarinhos encontrados mortos. Nas vezes em que encontrei filhotes no chão, sem ninho por perto, tentei salvá-los mas nunca consegui. E assim aprendi que é ingenuidade minha achar que todos os que nascem devem viver.

Observando todo esse movimento de nasce e morre percebi que a natureza funciona com uma perda já contabilizada, que provavelmente existe para mantê-la em equilíbrio. Quero dizer que aves produzem ovos e filhotes muitas vezes apenas para alimentar seus predadores. É comum na vida de um casal botar seus ovos, cuidar deles por alguns dias e depois perdê-los para um gambá ou uma cobra. Também acontece de criarem seus filhotes por apenas algumas semanas e perdê-los para um gato (doméstico ou selvagem) ou simplesmente para o vento, que derruba o ninho deixando os pequenos morrerem no chão.

O mesmo acontece com as ninhadas de todas as outras espécies e também acontecia com os seres humanos antes de inventarem incubadoras e UTIs. Era "normal" na história das mulheres de antigamente perder bebês ainda na barriga ou logo depois do nascimento. Ou mesmo já crescidinhos. Partos davam errado, bebês adoeciam com gravidade, crianças morriam afogadas brincando no rio e em um número muito maior de acidentes do que acontece atualmente.

Hoje a tecnologia e a precaução nos protegem e muitas vezes nos salvam, mas a natureza ainda funciona no seu ritmo e segundo sua própria lógica. Um ninho mal construído num mês de muitas chuvas fatalmente não suportará seus ovos, e assim os bichos do chão terão o que comer. Um passarinho que se agite demais no ninho antes de estar apto a voar fatalmente cairá lá do alto, servindo de alimento a alguém.

Muitas vezes ainda tento evitar, mas o que tem que ser sempre é. Aqui, outro dia, Herr Otto observava concentrado um regador vazio.


Lá dentro encontrei um micro ser todo molhado, provavelmente um filhote de rolinha. Mas o que um filhote de rolinha faz dentro de um regador?



Só a natureza pode responder. Não havia ninho por perto e eu ainda tentei salvá-lo, mas como os outros "suicidas" que resgatei ele acabou morrendo depois de alguns dias internado. Teria morrido de qualquer maneira, na boca de um cachorro, gato ou lagarto daqui.


Resta entender que tudo tem seu ciclo e colecionar as embalagens, aproveitando pra aprender com elas. É fácil reconhecer um ovo de onde não nasceu ninguém. As partes quebradas normalmente são pequenas ou grandes demais, e as bordas e rachaduras são irregulares. O ovo pode ter quebrado ao cair no chão ou ter sido bicado por outra ave. Sim, existem aves que comem aves e seus ovos.


A casca que sobra quando nasce um passarinho tem nas bordas um corte regular feito pela serrinha que os filhotes têm sobre o bico. A gente nitidamente percebe que aquilo foi feito por alguém, não é uma casca quebrado ao acaso.



Minha última aquisição foi um ovo de anu-branco. Na verdade foi um presente do vizinho produtor de gérberas, que divide comigo a curtição por aves. É o ovo mais curioso que tenho até agora, pela coloração verde-azulada e pelo relevo branco feito de cálcio. Ele encontrou o ovo caído no chão e me trouxe de presente, sugerindo que eu fizesse um furinho em cada ponta e assoprasse um deles, para expulsar pelo outro a clara e a gema. É assim que se esvazia um ovo quando se quer guardar a casca inteira.

Confesso que senti uma sensação esquisita de pensar que poderia ter um começo de passarinho ali dentro, mas depois de olhar bastante o ovo contra uma lanterna forte cheguei à conclusão de que ainda não estava chocado. Lá dentro só consegui ver uma mancha escura parecida com gema, então tomei coragem e assoprei. Valeu a pena. Depois de bem enxaguado e seco no sol sobrou a casca inteirinha, figurinha carimbada na minha coleção.


E como um bônus ainda descobri, pesquisando no Wikiaves, que o anu-branco (Guira guira) é essencialmente carnívoro e se alimenta de gafanhotos, percevejos, aranhas e lagartas peludas e urticantes. Virou pet, minha ave de estimação.

Anu-branco - Foto de Luiz Felipe R. Valentini