O mundo para quando ele vem aqui, e eu largo tudo o que estiver fazendo só pra ouvi-lo falar. Ele sabe tudo de plantas e tem no viveiro nada mais nada menos do que 1.200 espécies delas (aposto que tem mais; sempre tem umas que ficam esquecidas na hora do levantamento). O que não tem no sítio no momento ele diz quando vai ter ou conhece quem tem. Ou melhor ainda: diz que no trevo da cidade tal, do lado esquerdo de que vem de X e vai para Y tem um pé daquilo, que no ano passado não deu flor mais que nesse já está dando, e daqui a tanto tempo vai ter semente, e que o momento certo de colher é...
Já viajou o país inteiro diversas vezes garimpando espécies e cita montes de lugares interessantes que abrigam o que há de mais bonito e curioso no reino vegetal. Diz que hoje não tem mais aquele pique de antigamente, quando percorria mais de mil quilômetros num único dia visitando produtores e propriedades, então agora só encara 4 ou 5 horas no volante de cada vez. Só que falta tempo. Precisaria ter alguém para deixar no viveiro no lugar dele enquanto ganha mais mundo. Para isso tem ensinado Gustavo, o filho, que é daqueles casos que dispensam exame de DNA. Olhando um ao lado do outro você entende o real significado do termo herança genética.
O nome dele? Edilson Giacon, do viveiro Ciprest.
Não bastasse tudo o que essa criatura conhece, digo com toda segurança que é uma das pessoas mais simpáticas e generosas que conheço. Pra começar ele fala sorrindo, o que faz qualquer conversa ficar mais especial. E sorrindo ele vai contando casos, falando nomes, descrevendo formatos de folhas, flores, frutos e ensinando coisas que eu não sei. Como o que mais tem é coisas que eu não sei, ele passa horas respondendo (numa boa!) as minhas perguntas. Com a maior generosidade me ajuda a identificar o que estamos cultivando sem saber o que é, sugere alterações, melhorias e ainda pede preços e reserva lotes.
Estamos muito próximos um do outro - coisa de meia hora de estrada - e ele às vezes compra plantas aqui, o que me deixa muito lisonjeada. Nada mal poder fornecer algo para quem é referência nacional por ter de tudo. Mas ele está sempre atrás de mais: invariavelmente chega com novidades de uma planta nova que conseguiu que alguém mandasse de outro continente e que já está multiplicada, enraizada e crescendo no viveiro. Assim, garimpando sem fronteiras, ele hoje tem variedades especiais como a orquídea que produz a verdadeira baunilha em fava, a Amapá - árvore que dá leite tão nutritivo quanto o leite materno, as diferentes espatódias branca e amarela, o cipó-alho, diversas frutíferas que você e eu nunca ouvimos falar, muitas variedades de manga e laranja, sem falar dos perfumadíssimos limões yuzu, cafir e agora também um novo que me trouxe de presente: o limão-caviar, ou "caviar vegetal".
Folhagem fininha do limão caviar |
A folhagem é uma graça, e mais bonito ainda parece que é o interior do fruto, que ao invés dos gominhos em formato de gota, como todos os cítricos, tem o sumo embalado em bolinhas verdes, amarelas ou alaranjadas, dependendo da planta.
Fico sempre tentando retribuir tudo o que ele me ensina e me dá de presente, por isso, na visita da semana passada convidei-o a passear pelo jardim para ver como estão seus filhos - muito do que tenho de bonito veio da casa dele. O Combretum amarelo floresceu esse ano pela primeira vez e encheu nossa antena de ferro de delicadas escovas de cerdas macias. O eucalipto arco-íris ainda não coloriu mas cresce bonito, já está mais alto do que eu. A Hamelia patens dá flores e frutos o ano inteiro, e por causa dela sempre assistimos briga de beija-flores, que disputam a planta a bicadas. A paineira branca também floresceu pela primeira vez recentemente e foi o ponto alto do jardim por mais de um mês, com suas grandes flores de miolo cor de vinho. A fruta do milagre produziu bastante no primeiro semestre e agora com a chegada da primavera se animou a crescer ainda mais, já preparando botões para uma nova florada.
Depois de três horas aprendendo, aprendendo e aprendendo ainda ganhei de presente uma poda no arbusto Alegria-dos-pássaros (Elaegnus umbellata), que também veio do Ciprest mas nunca fez a alegria dos voadores daqui. Já são dois anos tentando de tudo para que ele floresça e frutifique mas ainda nada. Acho que dei azar, porque quem tem a planta diz que ela produz fácil e realmente é um sucesso com a bicharada do jardim. Edilson conta que quando conheceu a espécie, anos atrás, teve a impressão de que macacos pulavam entre os galhos, de tanto que o arbusto chacoalhava. Chegando mais perto percebeu que eram pássaros, mais de uma centena deles num mesmo pé. Fez estacas, passou a produzir a espécie e batizou-a com esse nome mais adequado e sugestivo, para substituir Acerola-japonesa, que era como a chamavam. Parece que pegou, porque é assim que atualmente ele é conhecida, inclusive nos livros.
Combretum fruticosum florido no início do inverno |
Flores da Hamelia patens, super disputadas por beija-flores |
Frutos da Hamelia patens, super disputados por passarinhos vários |
Flor da paineira branca Ceiba glaziovii |
Depois de três horas aprendendo, aprendendo e aprendendo ainda ganhei de presente uma poda no arbusto Alegria-dos-pássaros (Elaegnus umbellata), que também veio do Ciprest mas nunca fez a alegria dos voadores daqui. Já são dois anos tentando de tudo para que ele floresça e frutifique mas ainda nada. Acho que dei azar, porque quem tem a planta diz que ela produz fácil e realmente é um sucesso com a bicharada do jardim. Edilson conta que quando conheceu a espécie, anos atrás, teve a impressão de que macacos pulavam entre os galhos, de tanto que o arbusto chacoalhava. Chegando mais perto percebeu que eram pássaros, mais de uma centena deles num mesmo pé. Fez estacas, passou a produzir a espécie e batizou-a com esse nome mais adequado e sugestivo, para substituir Acerola-japonesa, que era como a chamavam. Parece que pegou, porque é assim que atualmente ele é conhecida, inclusive nos livros.
Quando Edilson foi embora fui curtir os presentes, repassar as anotações e, como sempre, fiquei me sentindo eternamente em débito pelo pacotão de coisas interessantes que sempre fica aqui comigo depois que ele sai pelo portão.