sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Sobre chuva, água e eucaliptos


Finalmente está chovendo aqui. Já chegamos a 6 mm e continua, daquele tipo fraco e persistente que parece que vai se manter pelo dia todo. O mais interessante foi notar como todo mundo está feliz com isso, afinal tivemos o janeiro e o fevereiro mais secos de que temos notícia. Ao menos quem tem um mínimo de envolvimento direto com meio ambiente tem pensado e falado quase diariamente sobre isso. Tenho conversado sobre chuva e seca com a Carol, com a Neide, com minha mãe, com os vizinhos produtores de Holambra...

E ontem, papeando com a Neide, comentamos sobre um post dela de uns dias atrás que fala sobre as inúmerasplantações de eucalipto Brasil a fora. Se você pegou estrada ao menos uma vez nos últimos anos sabe do que eu estou falando. Quem gosta de coisa organizada acha bonito de ver aquela floresta toda igualzinha, simétrica, todas as árvores do mesmo tamanho (eucaliptos clonados), da mesma cor, muito bem comportadinhos.

Mas o eucalipto é espécie que chupa muita água do solo. Muita mesmo. Não é à toa que Manequinho Lopes escolheu plantar a espécie numa área brejosa que hoje é conhecida como Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Tudo ali era muito molhado, e o entomologista conseguiu secar a área e torná-la urbanizável graças ao plantio de eucaliptos. Eles estão lá até hoje, grandes e frondosos.

Acontece que as inúmeras plantações de eucalipto que vemos quando viajamos de carro têm alterado muito as características dos lençóis freáticos e das nascentes que em outros tempos jorravam abundância de água. Além disso, os tratos culturais aplicados nas áreas de plantio de eucalipto estão afetando a biodiversidade e acabando com a lavoura de pequenos agricultores vizinhos que viviam de plantar um pouquinho de milho, de tomate, de verduras...

Aqui faço uma pausa e sugiro que você assista ao vídeo que a Neide postou, que com depoimentos ilustra melhor o que estou dizendo.
Clique aqui, vá até o post e veja o vídeo, que é curtinho.

O que muita gente diz (e eu mesma já repeti isso por aí) é que é melhor plantar eucalipto do que derrubar matas nativas para aproveitar a madeira. É verdade. O pouco que resta de árvores brasileiras em ambiente natural por aqui não pode sofrer nem mais uma triscadinha. Mas, como sempre, o buraco é mais embaixo.

Por que tanto eucalipto?

A resposta, infelizmente, revela a minha responsabilidade, a sua, a da minha família, a da sua, e a de cada pessoa que usa papel higiênico, come pão, pizza, e imprime folhas de papel sulfite, entre muitas outras ações comuns na vida do século 21.

A gente pensa em árvores para fazer papel - e esse é mesmo um grande motivo das florestas plantadas - mas elas se prestam também a fornecer lenha para diversos fins. São Paulo tem a maior quantidade de pizzarias delivery com forno a lenha de todo o planeta, por exemplo, e nelas se queima muito eucalipto.

Outros grandes consumidores de lenha são as padarias, churrascarias, as indústrias de cerâmica, de cimento e as siderúrgicas – todos setores ligados ao consumo e ao desenvolvimento do(s) país(es). Daí facilmente se conclui que quando mais se consome de tudo e qualquer coisa, mais lenha a gente gasta e mais eucalipto a gente tem que plantar.


É fácil passar em frente a uma gigantesca floresta de eucalipto e pensar “que absurdo”. Mais raro é alguém que pense “tenho feito a minha parte na redução do consumo? O que é supérfluo lá em casa? O que pode ser reduzido?”. Mas sempre é tempo de começar.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Primeiros voos


Quatro semanas de Rolinha sob meus cuidados, e depois dos aprendizados de comer papinha na seringa, bicar grãos e quirera e beber água, estamos na fase mais difícil.
Como é que um ser humano ensina uma ave a voar?

O instinto começou a dar nela as primeiras cutucadas, e assim que saía da gaiola para um passeio no escritório a criança era tomada por uma vontade incontrolável de bater as asinhas. Como um helicóptero aquecendo os motores, Rolinha começava a fazer vento em cima da mesa e espalhar a papelada toda no chão. Era bonitinho de ver.

Pra mim essa foi a dica de que estava na hora de começar a estimular pequenos voos. Infelizmente (muito infelizmente!) não tenho condições técnicas de sair voando na frente, então restou chamá-la pra vir nas mãos da mamãe.