Finalmente está chovendo aqui. Já
chegamos a 6 mm e continua, daquele tipo fraco e persistente que parece que vai
se manter pelo dia todo. O mais interessante foi notar como todo mundo está
feliz com isso, afinal tivemos o janeiro e o fevereiro mais secos de que temos
notícia. Ao menos quem tem um mínimo de envolvimento direto com meio ambiente
tem pensado e falado quase diariamente sobre isso. Tenho conversado sobre chuva
e seca com a Carol, com a Neide, com minha mãe, com os vizinhos produtores de
Holambra...
E ontem, papeando com a Neide,
comentamos sobre um post dela de uns dias atrás que fala sobre as inúmerasplantações de eucalipto Brasil a fora. Se você pegou estrada ao menos uma vez
nos últimos anos sabe do que eu estou falando. Quem gosta de coisa organizada
acha bonito de ver aquela floresta toda igualzinha, simétrica, todas as árvores
do mesmo tamanho (eucaliptos clonados), da mesma cor, muito bem comportadinhos.
Mas o eucalipto é espécie que chupa
muita água do solo. Muita mesmo. Não é à toa que Manequinho Lopes escolheu
plantar a espécie numa área brejosa que hoje é conhecida como Parque do
Ibirapuera, em São Paulo. Tudo ali era muito molhado, e o entomologista
conseguiu secar a área e torná-la urbanizável graças ao plantio de eucaliptos.
Eles estão lá até hoje, grandes e frondosos.
Acontece que as inúmeras plantações
de eucalipto que vemos quando viajamos de carro têm alterado muito as
características dos lençóis freáticos e das nascentes que em outros tempos
jorravam abundância de água. Além disso, os tratos culturais aplicados nas
áreas de plantio de eucalipto estão afetando a biodiversidade e acabando com a
lavoura de pequenos agricultores vizinhos que viviam de plantar um pouquinho de
milho, de tomate, de verduras...
Aqui faço uma pausa e sugiro que
você assista ao vídeo que a Neide postou, que com depoimentos ilustra melhor o
que estou dizendo.
Clique aqui, vá até o post e veja o
vídeo, que é curtinho.
O que muita gente diz (e eu mesma
já repeti isso por aí) é que é melhor plantar eucalipto do que derrubar matas
nativas para aproveitar a madeira. É verdade. O pouco que resta de árvores
brasileiras em ambiente natural por aqui não pode sofrer nem mais uma
triscadinha. Mas, como sempre, o buraco é mais embaixo.
Por que tanto eucalipto?
A resposta, infelizmente, revela a
minha responsabilidade, a sua, a da minha família, a da sua, e a de cada pessoa
que usa papel higiênico, come pão, pizza, e imprime folhas de papel sulfite, entre
muitas outras ações comuns na vida do século 21.
A gente pensa em árvores para fazer
papel - e esse é mesmo um grande motivo das florestas plantadas - mas elas se
prestam também a fornecer lenha para diversos fins. São Paulo tem a maior
quantidade de pizzarias delivery com forno a lenha de todo o planeta, por exemplo,
e nelas se queima muito eucalipto.
Outros grandes consumidores de
lenha são as padarias, churrascarias, as indústrias de cerâmica, de cimento e
as siderúrgicas – todos setores ligados ao consumo e ao desenvolvimento do(s)
país(es). Daí facilmente se conclui que quando mais se consome de tudo e
qualquer coisa, mais lenha a gente gasta e mais eucalipto a gente tem que
plantar.
É fácil passar em frente a uma
gigantesca floresta de eucalipto e pensar “que absurdo”. Mais raro é alguém que
pense “tenho feito a minha parte na redução do consumo? O que é supérfluo lá em
casa? O que pode ser reduzido?”. Mas sempre é tempo de começar.