quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Lixo no quintal dos outros é refresco


Nada como ter o problema perto, muito perto de você, para tratá-lo com seriedade.

A área rural onde moro fica a 3 km do centro da cidade. É perto, e isso me agrada porque não é preciso fazer longas viagens para ir ao banco, ao supermercado e outros lugares onde a gente vai sempre. Mas na nossa porta não passam o carteiro nem o lixeiro. O problema da correspondência é facilmente resolvido com o aluguel de uma caixa postal na agência da cidade, mas o do lixo…

A solução é a mesma de quando não existia lixeiro passando na porta de ninguém: um buraco no quintal. Cava-se o mais fundo possível e no entorno da boca do buraco vai uma paredinha de tijolos, para evitar o acesso de ratos e cachorros. Algo de 80 cm de altura. Nos mais de 60 anos em que existe o sítio, o buraco do lixo já foi em diversos lugares. Isso porque com o passar do tempo ele vai enchendo, e um dia é necessário encerrá-lo para abrir um novo.

Se tivéssemos visão de raio X passearíamos pelo jardim enxergando um museu de tudo o que já foi descartado aqui. Felizmente, há 50, 60 anos não eram tantas as embalagens de plástico, e latas de diversos tipos normalmente eram reaproveitadas para outros fins, então muito do que foi enterrado provavelmente já se decompôs e está reintegrado à natureza.

Hoje é que o bicho, ou melhor, o lixo pega. Separamos para reciclagem tudo o que é possível, mas acontece de aparecer uma embalagem sem identificação de tipo de material (o número dentro do triângulo de setas) ou algo tão sujo e engordurado que não pode ser reciclado. Uma embalagem de queijo parmesão, por exemplo, que tem tanto óleo que até escorre. E aí, quem tem coragem de simplesmente jogar aquilo no buraco do lixo, sabendo que o plástico leva 400 anos para se decompor? Enterrar resolve? O que os olhos não vêem o coração não sente?

Uma coisa é transferir o problema para o lixeiro - aquele incrível mágico ilusionista que passa de porta em porta fazendo tudo desaparecer -, outra coisa é ser responsável por cada coisinha que você enterra a 40 metros da sua cozinha, embaixo das plantas bonitas que escolheu a dedo e plantou com as próprias mãos. No fundo é tudo a mesma coisa, o plástico estará enterrado aqui ou no lixão, mas a responsabilidade de cuidar daqui me mobilizou ainda mais.

O resultado é que as experiências e os desafios vão nos aperfeiçoando, e que bom que é assim. Cada vez compro menos coisas embaladas, menos comidas industrializadas, menos glutamato monossódico, e tenho feito mais pães, bolos, biscoitos, arroz, feijão, sopas a partir de vegetais frescos… e no fim das contas não só nós somos beneficiados com toda essa comida de verdade, mas o lixo também. Sobram mais cascas e menos pacotes. Mais matéria orgânica compostável e menos embalagens.

Nos casos de pacotes recicláveis porém engordurados demais, em respeito às usinas que recebem o material que separamos tenho lavado tudo com água e bastante sabão de coco. Não dá trabalho nenhum e torna aproveitável a matéria prima já processada. E não venham me dizer que eu gasto mais água na lavagem do que a usada na produção de um pedaço de plástico novo, porque não é só isso que está em jogo. O pedaço de terra que está sob minha responsabilidade agradece. O seu aterro sanitário também agradeceria.

9 comentários:

  1. Oi, Eu cheguei a pouco da Alemanha e eles adotam algo que saí do Brasil pensando ser ruim e hj sinto falta de discussão a respeito, talvez devesse ser melhor avaliado: incineração. A diferença é que o calor da queima (feita com filtro na chaminé) é usado para gerar energia (vira uma termoelétrica). Eles separam embalagem limpa, assim como vc faz, e lavam só o vidro (material de baixo valor energético). O que estiver sujo é convertido em energia queimando. Precisa ter um determinado volume para valer a pena economicamente, mas eu não encontrei ainda ninguém avaliando o custo das servidões para passar os fios no meio da mata e sua manutenção, sem qualquer plano B (se faltar água em Itaipu o país para), como ocorre por aqui. Respeito a sua tentativa de poluir menos lavando as embalagens, mas o tratamento da água também é difícil - e até onde sei, gordura não é algo que se meça ao verificar a qualidade do que bebemos.

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  2. ?!, muito obrigada por seu depoimento. Concordo plenamente que incineração com fumaça filtrada para gerar energia é uma excelente solução para o que não é orgânico nem pode ser reciclado. Eu seria totalmente adepta, se já tivéssemos essa opção.
    Quem sabe um dia. Estamos atrasados, mas ainda há chance.
    Mais um vez muito obrigada e um abraço!
    Juliana.

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  5. Verdade, as pessoas a cada dia não se respeitam!
    Caso o seu vizinho jogue lixo no seu quintal e você precise trocar o gramado, entre em contato conosco http://gramasviaverde.com.br/

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  6. O lixo é um problema que todos devemos nos preocupar e tentar evitar acúmulo tanto em nossas casa como nas ruas e as autoridades também deve fazer a sua parte.

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  7. O cúmulo do lixo que já vi e o povo que joga fezes de cachorro sem enterrar em locais onde e solicitado aos jardineiros que o mato seja cortado.
    Aí aquele cocozinho inofensivo e compostavel vira a alegria do uniforme do jardineiro.....

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  8. Parabéns, ótimo post. Trabalho com grama natural (Esmeralda e São Carlos) e se alguém se interessa segue o meu contato. Obrigado desde já.

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