A primavera desta vez chegou adiantada, ainda nas últimas semanas de inverno, nas asas de passarinhos tão apressados que pareciam até atrasados.
Sabiás, sanhaços-azuis, bem-te-vis e beija-flores rapidamente construíram ninhos nas copas densas das árvores, nas moitas espinhosas do jardim e em cantinhos protegidos da nossa casa.
Enquanto a Sabiá-do-campo coletava barro pra sua cuia de raízes e ramos no vitrô do banheiro, a beija-flor ajeitava paina, matinhos e musgos no caule de uma folha de samambaia na varanda, formando a cestinha mais delicada, confortável e pequenininha que se pode imaginar.
De dentro da casa, observando as engenheiras pelas frestas e vidros, tentamos atrapalhar o mínimo possível, tomando banho de vitrô fechado e regando menos as plantas da varanda. Resultado: um banheiro super úmido, as plantas sofrendo por falta de água e nossa porta principal interditada.
Depois de alguns dias de adaptação a sabiá se acostumou com a lâmpada que às vezes acendemos à noite - afinal não é legal fazer xixi nem escovar os dentes no escuro - e a beija-flor entende que de vez em quando preciso ligar a mangueira e jogar água na varanda. Quando me aproximo, ela voa rapidinho para a árvore logo em frente e de lá me observa, com um misto de confiança e receio, enquanto eu não resisto e dou umas espiadas discretas dentro do ninho. Se começo a me demorar demais, ouço seu tic tic tic impaciente me pedindo que acabe logo e libere o lugar, porque ela precisa voltar ao seu trabalho de chocar.
Com muito cuidado e sem tocar em nada andei fazendo umas fotos, e agora conto os dias para o nascimento das crianças. Que pena que não vou poder segurar nenhuma no colo!